Sábado, 21 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 2 de outubro de 2024
Quantas vezes não desejamos voltar no tempo e curtir o agora com a disposição de anos passados? Parece coisa de cinema, mas uma pesquisa comandada por especialistas do Brigham and Women’s Hospital, em Boston, nos Estados Unidos, concluiu que a idade biológica pode, sim, ser restaurada.
Reflexo da saúde de tecidos e células, a idade biológica é impactada por diversos fatores. Estilo de vida, agentes ambientais e doenças contraídas ao longo da vida são alguns deles. O que o estudo publicado na revista científica Cell Metabolism descobriu recentemente é que a diminuição do estresse pode revertê-la.
“Tradicionalmente, pensava-se que a idade biológica aumentava cada vez mais, mas levantamos a hipótese de que na verdade isso é muito mais dinâmico”, afirmou em nota Jesse Poganik, PhD à frente da pesquisa, da Divisão de Genética de Brigham.
O estudo, que utilizou relógios biológicos, ferramenta amplamente usada em pesquisas sobre o envelhecimento para medir os níveis de alterações moleculares no DNA, observou pacientes que viveram estresses psicológicos graves.
Especialistas avaliaram amostras sanguíneas de pessoas em três tipos de situação: idosos que passaram por intervenções cirúrgicas, internos na unidade de terapia intensiva (UTI) com Covid-19 e gestantes – fêmeas de camundongos grávidas também foram analisadas.
Em todos os casos, os níveis de estresse impactaram no envelhecimento do organismo, mas o contexto foi revertido com a solução do problema.
Entre as gestantes, houve um aumento da idade biológica até o momento do parto, quando o efeito atingiu seu pico, situação que voltou ao normal depois de elas darem à luz suas crianças.
Os pacientes infectados pelo novo coronavírus que se viram em situação de risco também envelheceram, mas, especialmente as mulheres, recuperaram a idade biológica com a alta hospitalar.
Idosos que fizeram cirurgias de grande porte, como a ocasionada por fraturas no quadril, recuperaram a idade biológica em até sete dias após o procedimento.
“O estresse severo pode desencadear o aumento da idade biológica, mas, se ele for de curta duração, os sinais de envelhecimento biológico podem ser revertidos”, afirmou Jesse na ocasião da divulgação da pesquisa.
Como tentar mudar
Pessoas que vivenciam situações de estresse constante tendem a ter altos níveis de cortisol, hormônio que, em excesso, pode comprometer a função imunológica e aumentar a inflamação das células.
O resultado disso é a aceleração do encurtamento dos telômeros, estruturas localizadas no final dos cromossomos, responsáveis por proteger o DNA.
“Telômeros encurtados são um marcador de envelhecimento celular e têm sido associados a um risco maior de doenças cardiovasculares, câncer e envelhecimento precoce”, explica a neuropsicanalista Priscila Gasparini Fernandes.
Vale observar, no entanto, que nem todas as pessoas respondem ao estresse da mesma forma. A psicologia do envelhecimento reconhece que fatores como resiliência, suporte social e habilidades de enfrentamento podem moderar a resposta a situações emocionalmente extenuantes.
“Indivíduos com maior resiliência tendem a ter mecanismos mais eficazes para lidar com o estresse. A presença de uma rede de apoio emocional também pode aliviar seus efeitos psicológicos e fisiológicos, retardando o envelhecimento biológico”, esclarece a neuropsicanalista.
A especialista destaca ainda que hábitos saudáveis fazem toda a diferença nesse processo. “A atividade física regular é das intervenções mais poderosas no combate ao estresse”, afirma.
Do ponto de vista psicológico, o exercício não apenas libera endorfinas, neurotransmissores que promovem sensações de bem-estar, mas também reduz os níveis de cortisol. Além disso, promove a criação de novos neurônios, o que pode reverter alguns dos danos cerebrais associados ao envelhecimento.
Cuidar da higiene do sono e meditar são outras sugestões para tentar reverter os efeitos do estresse. “Técnicas de respiração e relaxamento também podem ser integradas à rotina para reduzir a tensão associada ao estresse.”