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Geral Estudo calcula o peso da mudança climática nas chuvas extremas do Rio Grande do Sul

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Na capital, hoje apenas dois dos 46 bairros alagados no auge da tragédia seguem nessa condição. (Foto: Gilvan Rocha/Agência Brasil)

As mudanças climáticas produzidas pela ação do homem no planeta tiveram uma grande contribuição nas chuvas extremas registradas entre fim de abril e início de maio no Rio Grande do Sul. O aumento da temperatura global dobrou as chances de a catástrofe acontecer, aponta um estudo de caso publicado nessa segunda-feira (3).

A conclusão é do World Weather Attribution (WWA), uma rede de cientistas que investiga o papel das mudanças climáticas a cada evento extremo registrado no mundo. No caso recente brasileiro, elas transformaram um acontecimento extremamente raro, que era esperado apenas uma vez a cada 100 a 250 anos no clima atual, naquilo que se tornou a pior catástrofe natural já registrada no Rio Frande do Sul.

As inundações deixaram marcas em mais de 90% do estado – uma área equivalente ao Reino Unido. Até agora, 172 mortes foram confirmadas e cerca de 600 mil pessoas permanecem desalojadas. Em muitos locais, como algumas áreas da capital Porto Alegre, a água ainda não baixou.

Um período mais úmido que o normal já era aguardado na região por conta do El Niño, caracterizado pelo aumento da temperatura das águas superficiais no Oceano Pacífico tropical. Este fenômeno climático natural ajuda a explicar a variabilidade nas chuvas observadas, mas o que se viu foi além do esperado.

“Nosso estudo mostrou em específico que as mudanças climáticas juntamente com o El Niño duplicaram o potencial de ocorrência do evento e aumento na intensidade de 6-9% devido à queima de combustíveis fósseis”, detalhou Lincoln Alves, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e um dos autores da pesquisa.

Criado em 2015, o WWA tenta, desde então, calcular o peso das mudanças climáticas nos eventos extremos pelo mundo. Logo que uma grande enchente, deslizamento de terra ou seca acontecem, deixando um rastro de destruição e mortes, é comum que a sociedade se pergunte qual a participação das mudanças climáticas no cenário.

No caso do Rio Grande do Sul, os cientistas analisaram dois períodos de chuvas: um acumulado de quatro dias (20 de abril a 2 maio), e outro de dez dias (26 de abril a 5 de maio). A janela de quatro dias se mostrou o evento único mais severo: as chuvas recordes caíram por vários dias consecutivos.

A depender de onde a catástrofe é registrada, o grupo convida pesquisadores locais para contribuir. No caso recente gaúcho, além de Alves, Regina Rodrigues, professora de Oceanografia Física na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), também participou.

Para se ter uma ideia da severidade da inundação mais recente, a pesquisadora comparou dados de 1941, quando Porto Alegre sofreu o que era até 2024 a sua pior cheia, com a situação atual.

“Em 1941, foram necessários 22 dias para o nível da água no Guaíba atingir 4,76 metros acima dos níveis normais. Em 2024, foram apenas cinco dias para o Guaíba ultrapassar os 5 metros, bem acima do nível de inundação de 3 metros necessário para inundar a cidade”, pontuou Rodrigues durante um seminário com jornalistas durante a apresentação do estudo.

A pesquisadora ressalta que três das maiores enchentes no Sul do Brasil aconteceram nos últimos nove meses, sob influência deste El Niño, que foi intenso. “A ciência já mostra que as mudanças climáticas vão intensificar este padrão”, disse Rodrigues.

Entre setembro do ano passado, um ciclone extratropical provocou cheias que deixaram 54 mortos. As chuvas do fim de 2023 tinham entrado para a história como as de piores consequências. Isso até o fenômeno de 2024, que afetou fortemente várias cidades que ainda se recuperavam, como vários centros urbanos do Vale do Taquari.

Os resultados do estudo do WWA reforçam o que previsões passadas diziam sobre o que regiões enfrentam num planeta até 2°C mais quente. Estudos apontavam que, sob esse cenário, a probabilidade de ocorrência de eventos extremos aumentaria até três vezes, com elevação de 4% na intensidade.

Até o momento, o planeta já aqueceu 1,2°C acima da média em comparação com o período pré-industrial e a tendência de subida do termômetro continua.

Ao analisar o impacto das inundações em Porto Alegre, cidade que possui um sistema de proteção contra cheias, os cientistas avaliam que a redução do investimento e da manutenção pode ter levado a falhas.

“O sistema alegadamente começou a falhar a 4,5 metros de inundação, apesar da sua capacidade declarada de suportar água de 6 metros. Isto, para além da natureza extrema deste evento, contribuiu para os impactos significativos das cheias e aponta para a necessidade de avaliar objetivamente o risco e fortalecer a infraestrutura para ser resiliente a esta e a futuras cheias, ainda mais extremas”, afirma a pesquisa.

Maja Vahlberg, pesquisadora do Centro Climático da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho, destaca ainda a falta de rigor no cumprimento das leis ambientais. “Embora existam leis de proteção ambiental no Brasil para proteger as bacias hidrográficas e limitar as mudanças no uso do solo, elas não são aplicadas ou executadas de forma consistente”, apontou Vahlberg no seminário um dos fatores de vulnerabilidade, o que leva à ocupação de áreas sujeitas a inundações e aumenta o risco de desastre. As informações são da emissora internacional de notícias da Alemanha Deutsche Welle.

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