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Estudo da Unicamp sugere que coronavírus pode infectar células adiposas

No Brasil, mais de 4 mil pessoas obesas faleceram devido ao coronavírus. (Foto: Reprodução)

A Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) realizou experimentos que confirmam que o novo coronavírus (Sars-CoV-2) pode ser capaz de infectar células adiposas humanas e de se manter em seu interior. O experimento pode ajudar a entender por que indivíduos obesos correm mais risco de desenvolver a forma grave da Covid-19.

Segundo a hipótese investigada na Unicamp, os obesos teriam um maior reservatório para o vírus em seu organismo. Os obesos também são mais acometidos por doenças crônicas, como diabetes, dislipidemia e hipertensão, que também são fatores de risco para serem infectados pelo novo coronavírus.

Segundo o professor do IB (Instituto de Biologia) e coordenador da investigação, Marcelo Mori, as células adiposas (que acumulam gordura) têm capacidade relativamente grande de ser infectadas, se comparadas a outras células que são alvo primários do coronavírus.

“Como é o caso das células do epitélio do pulmão ou do intestino. No entanto, ainda não se sabe exatamente o porquê dessa carga viral das células adiposas serem maiores nessas células do que nas outras que foram usadas para comparação. Isso pode se dar pelo volume dos adipócitos ser bem maior que as outras células, ou pode ser porque, de alguma maneira, as células adiposas conseguem internalizar melhor o vírus. Essas são hipóteses que a gente vem testando. Outra possibilidade é que exista um mecanismo que favoreça essa internalização do vírus, que também é algo possível e vem sendo estudado”, disse o professor.

Os seres humanos têm células adiposas em todo o corpo, e os obesos as têm em quantidade e tamanho ainda maiores.

Os experimentos com adipócitos humanos estão sendo conduzidos in vitro, com apoio da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), no Leve (Laboratório de Estudos de Vírus Emergentes). A unidade tem nível três de biossegurança, um dos mais altos, e é administrada pelo professor José Luiz Proença Módena, também do IB, e coordenador, junto de Mori, da força-tarefa criada pela Unicamp para enfrentar a pandemia. Os resultados ainda são preliminares e não foram publicados.

A entrada do vírus na célula de gordura torna-se ainda mais favorecida quando o processo de envelhecimento celular é acelerado com uso de radiação ultravioleta. Ao medir a carga viral 24 horas após esse procedimento, os pesquisadores observaram que as células adiposas envelhecidas apresentavam carga viral três vezes maior do que as células “jovens”.

“Quando se induz um processo de envelhecimento precoce chamado de senescência nessas células, elas triplicam a capacidade de manter o vírus, de ser infectadas. As células senescentes se acumulam em indivíduos idosos e em obesos. Uma coisa interessante, que foi demostrada anteriormente por outros grupos, é que a eliminação das células senescentes pode, em modelos animais, promover uma longevidade e proteger contra doenças que geralmente estão associadas ao envelhecimento, como é o caso do diabetes, e algumas outras disfunções metabólicas”, explicou o professor.

Diante dessa observação, foram testados fármacos. “Testamos se fármacos que atuam eliminando essas células poderiam diminuir a carga viral nas células. Os medicamentos que eliminam células senescentes têm capacidade bastante significativa de reduzir a carga viral nas células.”

Segundo o professor, isso abre uma possibilidade de utilização desses medicamentos para eliminação dessas células senescentes para tentar tratar o SARS-CoV-2. “Nesse sentido, como a gente sabe que idosos e obesos tem o acúmulo dessas células senescentes e eles estão dentro do grupo de risco para a doença, pode ser que esse seja o elo entre o maior risco nessa população e o fato desses indivíduos terem uma maior severidade da doença. Tudo isso são hipóteses ainda, feito em experimentos in vitro, ou seja, em cultura de células, precisa ser testado em modelos animais e eventualmente ser testado em seres humanos”.

Para o pesquisador, de concreto para o tratamento da doença hoje, continua sendo o investimento na qualidade de vida. “Se a gente pensar nos grupos de risco, o que a gente tem que fazer é continuar colocando no nosso estilo de vida práticas para promover a saúde, principalmente a saúde metabólica para viver melhor: com uma nutrição adequada, exercícios regulares, mesmo que isolamento fazer atividade física dentro de casa”, aconselha.

Etapas seguintes

As etapas seguintes da pesquisa incluem a análise de adipócitos obtidos diretamente de pacientes com diagnóstico confirmado de Covid-19, obtidos por meio de biópsia.

Também serão conduzidas análises de proteômica (análise global e em larga escala dos proteomas, que são o conjunto de proteínas e suas isoformas expressas em uma amostra biológica, ou seja, em um organismo, tecido, biofluido ou célula) para descobrir se a infecção pelo Sars-CoV-2 afeta o funcionamento do adipócito e se deixa alguma sequela de longo prazo na célula. Essa etapa da pesquisa será feita em colaboração com o professor do IB-Unicamp Daniel Martins de Souza.

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