Sábado, 01 de fevereiro de 2025
Por Redação O Sul | 14 de julho de 2020
Pesquisadores de Ribeirão Preto registraram pela primeira vez os efeitos da Covid-19 no sistema circulatório. Um estudo publicado como prévia (pré-print) identificou a formação de coágulos microscópicos em pacientes mais graves da doença.
Segundo o artigo, de treze pacientes hospitalizados, onze apresentaram a formação de microtrombos – que impedem a circulação – nos pequenos vasos localizados embaixo da língua.
A coagulação excessiva é causada pela resposta que o corpo dá à infecção pelo coronavírus e a presença trombos foi encontrada na autópsia de diversos pacientes mortos pela infecção causada pelo coronavírus Sars-Cov-2.
Essa foi a primeira vez que cientistas identificaram e conseguiram documentar os coágulos em pacientes vivos.
“Nossa investigação demonstrou trombos na microcirculação desde a início da hospitalização”, escreveram os cientistas.”Esse achado reforça que a trombose microvascular é uma característica da Covid-19.”
Doença sistêmica
Assinado por pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto, o artigo sugere que a trombose microvascular é sistêmica e pode afetar diferentes órgãos. Segundo os autores, os que têm maior capilaridade, como os pulmões, acabam mais comprometidos.
No pulmão, a trombose microvascular pulmonar pode levar a um efeito de ‘espaço morto’, disseram os cientistas. É quando há ventilação, mas não há oxigenação e acontece o que eles chamam de hipoxemia crítica, a falta de oxigênio no sangue.
Ainda segundo os pesquisadores, a trombose microvascular pode comprometer outras áreas como os rins, fígado e cérebro, e podem contribuir com a disfunção de múltiplos órgãos.
A pesquisa ainda é inicial e os cientistas explicaram que ainda é preciso mais investigações para entender melhor qual é o papel da trombose microvascular nos casos mais graves da doença.
O que causa os coágulos
O coronavírus provoca algumas reações no corpo da pessoa infectada – o “acionamento” do sistema imunológico é uma delas.
Mas em alguns casos a resposta corporal é muito forte. O mecanismo de defesa prevê a produção de uma espécie de proteína chamada interleucinas. A função delas é semelhante a uma “convocação” de glóbulos brancos para combater o coronavírus.
O problema é que alguns pacientes produzem interleucinas demais – cientistas usam a expressão ‘tempestade de interleucinas”. É esse excesso que causa coágulos no sangue.