Domingo, 27 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 22 de agosto de 2021
Corrigindo um estudo divulgado em 2017 no “British Journal Sports Medicine”, a Federação Internacional de Atletismo transformou em regra o uso de medicamentos redutores da taxa de testosterona para que mulheres intersexuais possam participar de torneios femininos do esporte em provas de 400 até 1.500 metros.
“Intersexual” é o termo utilizado para descrever uma condição biológica na qual há o desenvolvimento de características tanto do sexo masculino quanto do feminino em um mesmo indivíduo.
Na pesquisa de quatro anos atrás, era apontada relação entre elevados índices de testosterona e desempenho de atletas nas corridas e outras modalidade do esporte.
Um caso conhecido é o da sul-africana Caster Semenya, bicampeã olímpica dos 800 metros – ganhou o Ouro nos Jogos de 2012, disputados em Londres (Inglaterra) e no evento de 2016, sediado pelo Rio de Janeiro.
Ela foi uma das prejudicadas pela regra que levava em consideração “diferenças de desenvolvimento sexual”. A determinação contribuiu para que a atleta ficasse de fora da Olimpíada de Tóquio, neste ano. Caster sofre de hiperandrogenismo, condição caracterizada pela produção excessiva, porém natural, de andrógenos como testosterona.
Agora, pesquisadores afirmam que existe possibilidade de não existir relação entre níveis de testosterona e desempenhos atléticos. No entanto, o comando da Federação Internacional de Atletismo (conhecida como “World Athletics”) já reiterou que não pretende alterar a regra.
“Lamento pelo fato de haver atletas que foram enganados por observações oriundas de interesses próprios e conflitantes, muitas vezes por advogados”, declarou o britânico Sebastian Coe, ex-atleta e atual presidente da entidade. “A realidade é que as regras vieram para ficar. Há 10 anos de ciência sólida que sustentam as regulamentações.”
Em seu mandato, Coe ficou marcado por críticas ao colocar em dúvida o gênero de mulheres intersexuais como Caster Semenya. Em outra declaração neste ano, o dirigente argumentou:
“A razão para termos classificação de gênero é porque se não tivermos nenhuma mulher vai conquistar um título ou quebrar um recorde no nosso esporte. A regra é para a proteção da competição justa. Semenya está invicta desde 2015”.
E ela não foi a única prejudicada pela norma. Nos Jogos de Tóquio, Beatrice Masilingi e Christine Mboma, da Namíbia, foram impedidas de competir nos 400 metros devido aos seus níveis de testosterona. Mas acabaram liberadas para disputar os 200 metros e Mboma obteve a medalha de prata.
“Velhas feridas”
Enquanto era julgado pelo Tribunal Arbitral do Esporte (TAS), o atrito entre Caster Semenya e a Federação Internacional de Atletismo foi alvo de críticas públicas. Caster Semenya acusou Sebastian Coe de abrir “velhas feridas” com seus comentários sobre o gênero dela.
Isso porque há anos a sul-africana tem visto seu gênero ser questionado e já teve de ser submetida a testes para comprovar que é uma mulher.
Recentemente, até a Organização das Nações Unidas (ONU) saiu em defesa da corredora, considerando a exigência de baixar níveis naturais de testosterona “desnecessária, humilhante e prejudicial”.