Todos concordam que reservar um momento depois do almoço para tirar um cochilo é um dos grandes prazeres da vida. Descansa o corpo, a cabeça e recupera as energias gastas para atravessar o restante do dia com muito mais disposição. O que poucos sabiam é que pequenas regiões do cérebro são capazes de fazer esse trabalho mesmo enquanto estamos acordados.
A recente revelação é fruto de um estudo feito por pesquisadores da Universidade de Washington (WashU), em St. Louis, em parceria com membros da Universidade da Califórnia, Santa Cruz (UCSC), que se estendeu ao longo de quatro anos.
A grande constatação, resultado da observação de um grupo de nove ratos, é que essas áreas podem se desconectar por frações de segundos, fazendo com que o cérebro vivencie microcochilos ao longo do dia.
Para a pesquisa, que reuniu uma importante quantidade de dados, eletrodos instalados em dez regiões diferentes do cérebro dos animais registraram a voltagem das ondas cerebrais e rastrearam pequenos grupos de neurônios até o microssegundo.
Com isso, foi possível identificar que, em determinados momentos, algumas partes do cérebro entram em estado de cochilo enquanto outras continuam em vigília.
Na prática, os animais observados faziam breves pausas em sua movimentação enquanto alguma região do cérebro “cochilava” e, ainda que acordados, agiam como se estivessem desconectados de seu entorno.
Chamada de “intermitências”, a capacidade até então desconhecida dá conta de que o cérebro é capaz de transitar por ambos os estados, de sono e de alerta, ao mesmo tempo.
A descoberta permite que a comunidade científica invista em novas terapias para tratar doenças neurodegenerativas e do neurodesenvolvimento. Também apresenta diferentes caminhos no tratamento de distúrbios do sono.
Atenção ao sono
Ano passado, a revista Science publicou uma pesquisa conduzida pela University College London (UCL), no Reino Unido, e pela Universidade da República do Uruguai (UdelaR), que atestava que tirar uns minutinhos durante o dia para dormir pode ter impacto significativo na longevidade.
Autora do estudo, que constatou que a diferença no volume cerebral entre aqueles que dormem e os que se mantêm alertas durante todo o período diurno foi de até 6,5 anos, a pesquisadora sênior da UCL Victoria Garfield declarou em nota que cochilos curtos ao longo do dia podem ajudar a preservar a saúde do cérebro à medida que envelhecemos.
Um estudo anterior desenvolvido por cientistas chineses e publicado na American Heart Association Journals, no entanto, chama a atenção para que esses pequenos momentos de descanso podem mascarar noites maldormidas, aumentando em 12% as chances de desenvolver pressão alta e em 24% as possibilidades de sofrer derrames.
“A espécie humana dorme na fase escura das 24 horas e, a partir da segunda infância, tem um sono monofásico. Agora, se há condições na vida que impedem isso, como turno de trabalho e necessidades domésticas, a gente pode ter um sono bifásico como complementação da rotina”, afirma a especialista em medicina do sono Andrea Bacelar.
Segundo ela, é no período de descanso profundo que concentramos a produção de hormônios, eliminamos substâncias e toxinas que acumulamos ao longo do dia, entre outros benefícios para a saúde como um todo. Por isso o perigo de noites maldormidas.
“Precisamos de um sono de qualidade para viver. A falta dele tem consequências negativas para a saúde”, comenta Andrea.
Ainda que cada faixa etária tenha um período médio de sono indicado, a médica alerta para o fato de que a quantidade necessária varia de organismo para organismo.
“Quando durmo e acordo espontaneamente no mesmo horário e me levanto satisfeita, restaurada física e mentalmente para viver um novo dia, é sinal de que descansei o suficiente”, exemplifica.
O melhor jeito de entender e regularizar esse ritmo é durante as férias, quando a falta de compromissos e estresses relacionados à rotina, que muitas vezes resultam em noites maldormidas, faz com que o corpo estabeleça o tempo de que ele precisa para se refazer. As informações são do jornal O Globo.