Domingo, 27 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 18 de março de 2016
Pessoas que sofrem do mal de Alzheimer podem não ter “perdido” a memória e ter apenas dificuldade para recuperá-la. É o que sugerem pesquisadores que revelaram a possibilidade de um tratamento que pode algum dia curar os estragos da demência. O estudo que dá esperança para pacientes foi publicado na revista britânica Nature.
O vencedor do prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina Susumu Tonegawa afirmou que estudos realizados em ratos mostram que estimulando áreas específicas do cérebro com luz azul, os cientistas podem conseguir que os animais lembrem experiências às quais não conseguiam ter acesso antes. Os resultados fornecem algumas das primeiras evidências de que a doença de Alzheimer não destrói memórias específicas, mas as torna inacessíveis.
“Como seres humanos e camundongos tendem a ter princípios comuns em termos de memória, nossos resultados sugerem que os pacientes com a doença de Alzheimer, pelo menos em seus estágios iniciais, podem preservar a memória em seus cérebros, o que indica que eles têm chances de cura”, afirmou Tonegawa.
Experimento.
A equipe de Tonegawa usou camundongos geneticamente modificados para mostrar sintomas semelhantes aos dos seres humanos que sofrem de Alzheimer, uma doença degenerativa do cérebro que afeta milhões de adultos em todo o mundo. Os animais foram colocados em caixas por cuja superfície inferior passa um baixo nível de corrente elétrica, causando uma descarga desagradável, mas não perigosa, em seus membros.
Um rato que não tem Alzheimer que é devolvido para o mesmo recipiente 24 horas depois tem um comportamento medroso, antecipando, assim, a sensação desagradável. Camundongos com Alzheimer não reagem da mesma forma, indicando que não guardam nenhuma memória da experiência.
Mas quando os pesquisadores estimulam áreas específicas do cérebro dos animais – as chamadas “células de engramas” relacionadas à memória – usando uma luz azul, lembram da sensação desagradável. O mesmo resultado foi observado quando se colocava os animais em um recipiente diferente durante o estímulo, o que sugere que a memória teria sido retida e se ativou.
“É uma boa notícia para os pacientes de Alzheimer”, disse Tonegawa.
O estímulo ótico das células cerebrais – técnica chamada “optogenética” – implica inserir um gene especial nos neurônios para fazê-las sensíveis à luz azul, e depois estimulam partes específicas do cérebro.
Tonegawa disse que a pesquisa em ratos dá esperança para o tratamento futuro do mal de Alzheimer que afeta 70% das 4,7 milhões de pessoas no mundo que sofrem de demência – um número que deve aumentar à medida que as pessoas vivem cada vez mais tempo.
Todavia, Tonegawa adverte que muito trabalho ainda é necessário. “Os níveis iniciais de Alzheimer poderiam ser curados, no futuro, se conseguirmos uma tecnologia com ética e segurança para o tratamento de condições humanas”, acrescentou. (AG)