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“Eu não sei mais o que fazer”, diz a prefeita de Boa Vista, sobre venezuelanos que não param de chegar

Teresa Surita diz que o impacto da chegada dos imigrantes é gigantesco na cidade. (Foto: Diógenes Santos/Divulgação/Câmara dos Deputados)

Teresa Surita (MDB) diz ter perdido a conta das vezes em que procurou autoridades federais, incluindo seu correligionário Michel Temer, em busca de ajuda para lidar com a imigração dos venezuelanos. Eles somam 30 mil pessoas na cidade e correspondem a 10% da população. Segundo Teresa, as promessas de Brasília para o caso têm sido descumpridas e o assunto se torna mais grave porque Roraima está “distante do Brasil” e possuiu poucos eleitores. Ela afirma não saber mais o que fazer e conta que está preocupada com o futuro, porque os brasileiros estão se revoltando cada vez mais contra a entrada de venezuelanos. Fechar a fronteira seria uma solução? Teresa diz que não. “Vejo a situação das pessoas que chegam aqui. É a chance de uma nova vida”. A seguir, os principais trechos da entrevista:

1) Quando vocês perceberam que a imigração de venezuelanos se tornaria um problema para Boa Vista?

Em outubro de 2016, em razão da crise que se instalava na Venezuela. Percebemos a chegada de índios e o aumento da prostituição num bairro da cidade.

2) O que a senhora fez na ocasião?

Procurei pela primeira vez o governo federal. Conversei com ministros e levamos nossa preocupação em razão da nossa proximidade com a Venezuela. Eles ficaram de tomar providências, mas só percebemos algumas no começo de 2017.

3) O que aconteceu?

Algumas pessoas foram nomeadas por ministros para acompanhar o problema. Eles vieram para cá dezenas de vezes, como vieram agora. Mas vieram para diagnosticar problemas. E constataram. Mas não houve ação concreta até fevereiro deste ano, quando chegamos no limite. O presidente Michel Temer veio para cá na segunda-feira de Carnaval.

4) A que a senhora atribui essa demora para a tomada de decisões do governo federal?

O fato de a gente morar tão longe, tão distante do Brasil. Naquela ocasião, o Temer veio e saiu uma medida provisória destinando R$ 198 milhões. Ele criou, por meio do Exército, a Operação Acolhida. Ela é constituída por três etapas: ordenamento da fronteira, com a vacinação obrigatória, a construção dos abrigos e a interiorização. A prefeitura teve de ajudar em coisas que o governo federal não tinha condições, como a drenagem e a terraplanagem dos terrenos onde estão os abrigos.

5) E as soluções contempladas na medida provisória estão funcionando?

Haveria três abrigos. Acontece que foram precisos dez. Na última vinda do presidente, acabaram de fazer a parte de obras da fronteira. Só que, enquanto isso, a crise na Venezuela piorou e mais e mais pessoas chegaram: entre 500 e 800 pessoas por dia. Isso quando não há picos, oportunidades em que entram mais de mil pessoas. A interiorização também não aconteceu.

6) Quantos venezuelanos entraram no País?

De acordo com a Polícia Federal, 120 mil pessoas. Dessas, algumas voltaram para a Venezuela, outras foram para outras localidades. Percebemos que, quem tem recursos, segue viagem. A interiorização até hoje só atendeu 820 pessoas. Isso corresponde a dois dias de entrada de venezuelanos.

7) Quantos venezuelanos estão em Boa Vista?

Fizemos um censo em junho e verificamos 26 mil pessoas. Hoje chegamos a 30 mil. E 12 mil entram por mês por Boa Vista. Dessas, 3 mil ficam aqui desassistidas. Os abrigos não comportam mais pessoas. Acho que o governo federal perdeu o controle. Eles apresentam a construção dos abrigos como casos de sucesso. Então dizem que ninguém no mundo acolhe pessoas desse jeito. Nós temos quase 5 mil pessoas abrigadas, com milhares de refeições, mas o dinheiro para atender as pessoas abrigadas termina no dia 1º de dezembro. E o governo coloca essa vitrine para a Organização das Nações Unidas como exemplo de acolhida.

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