Sábado, 15 de março de 2025
Por Redação O Sul | 16 de setembro de 2022
É dezembro na Europa, e a temperatura está caindo. As pessoas estão com a calefação ligada enquanto preparam o jantar, usam a máquina de lavar, assistem à TV. Mas a operadora francesa de eletricidade, a exemplo de outras operadoras europeias, está ficando sem opções para manter luzes acesas.
A empresa de energia elétrica emitiu um alerta vermelho, o que significa que o abastecimento está no limite. Já deixou sem fornecimento alguns grandes usuários industriais e reduziu a voltagem, e até fez um pedido para as famílias reduzirem o consumo de energia.
Muitas atendem ao pedido, mas este é um momento decisivo. A operadora tem de adotar a medida drástica de cortar o fornecimento para alguns lugares para evitar o colapso total do sistema.
Trata-se de um cenário dramático para o qual governos de toda a Europa se preparam, num momento em que a escassez de energia se agrava a cada semana que passa. Na quarta-feira, a francesa Réseau de Transport d’Éléctricité disse que provavelmente terá de pedir ao país que corte o consumo no inverno para evitar apagões.
A elevação do grau de alerta segue-se à medida tomada pela Rússia de cortar o abastecimento de gás por meio do duto Nord Stream, elevando ainda mais a perspectiva de que faltará gás para aquecer as residências e gerar energia elétrica. Vladimir Putin reduziu reiteradamente os fluxos para a Europa neste ano, como retaliação por sanções impostas ao seu país pela invasão da Ucrânia.
“A realidade é que não há gás suficiente na Europa”, disse Ed Birkett, diretor de energia e clima do instituto de análise e pesquisa Onward, de Londres. “Se a demanda não for reduzida, as empresas serão alijadas da rede, e, num cenário extremo, as famílias poderão ser obrigadas a sair da rede.”
Muita coisa vai depender do clima nos próximos meses. Pequenas oscilações de temperatura podem mudar radicalmente as necessidades de energia elétrica. Na França, uma queda de temperatura de 1° C normalmente aumenta a demanda por energia elétrica em cerca de 2,4 mil megawatts, o equivalente à produção de cerca de 2 de seus 56 reatores nucleares.
“Qualquer coisa que as pessoas puderem fazer agora para baixar a demanda contribuirá para a causa comum”, disse o consultor Adam Bell, que antes comandou a estratégia energética do Departamento de Estratégia Comercial, de Energia e Industrial do Reino Unido.
A Comissão Europeia propôs na quarta-feira uma regulamentação que conclama os governos a reduzir o uso total de energia em 10%, além de determinar uma diminuição obrigatória de 5% do consumo durante o horário de pico.
Analistas do Goldman Sachs disseram em relatório que “quanto mais reduções tivermos, principalmente no verão [de junho a setembro na Europa], do consumo de gás, menor será a probabilidade de a Europa enfrentar apagões”.
Mas algumas medidas de ajuda do governo poderão agravar o problema. Os tetos de preços destinados a ajudar os consumidores e as empresas a lidar com a disparada dos preços reduzem o poder dos incentivos de baixar o consumo.