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Evento em Porto Alegre celebra os 100 anos de nascimento do violonista gaúcho Jessé Silva

Músico falecido em 1988 é considerado um dos maiores nomes gaúchos do instrumento. (Foto: Divulgação)

Se as limitações do espaço-tempo pudessem ser ignoradas para a formação de um “time dos sonhos” do choro praticado em Porto Alegre, um dos prováveis resultados seria um regional formado por Plauto Cruz e Antonio “Piratini” Amábile nas flautas, Lúcio Quadros (1936-2004) e Clio Paulo nos cavaquinhos, Caco Velho, Azeitona e Valtinho nos pandeiros, mais Otávio Dutra, Darcy Alves e Jessé Silva nos violões.
 
Todos eles hoje já tocando, há mais ou menos tempo, nos “mezaninos” da existência, escalados que foram para brilhar na memória afetiva da cidade. Pois esta segunda-feira, 26 de agosto, marca justamente o centenário do nascimento de Jessé Silva (1919-1988). Nascido em Erebango, na Região Central do Estado, ele foi um dos maiores nomes do violão popular e do choro no Rio Grande do Sul.
 
Além de acompanhar talentos como Lupicínio Rodrigues (1914-1974), Pixinguinha (1897-1973) e Jacob do Bandolim (1918-1969), deixou dezenas de composições (como a célebre “Meu Pensamento”), distribuídas em três LPs autorais. Isso sem contar as inúmeras participações em gravações coletivas e de colegas.
 
Jessé era sobrinho do não menos mitológico Peri Cunha – bandolinista dos Azes do Samba (1931-32), com Noel Rosa, Francisco Alves, Mario Reis e Nonô – e antes de se fixar em Porto Alegre (1962) morou em cidades como Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife e Passo Fundo, acompanhando a família e atuando como radiotelegrafista da Força Aérea Brasileira (FAB) e de outros órgãos de aviação.
 
As notas do código morse, porém, foram trocadas pelas musicais após o fim da Segunda Guerra Mundial (1938-1945), ainda que não em definitivo: nas memórias da filha Suzana continuam muito vivos os diversos momentos em que Jessé utilizou os seus conhecimentos do sistema na buzina do carro durante engarrafamentos de trânsito.
 
Virtuose das cordas, o instrumentista se notabilizou pelas aparições em casas noturnas e emissoras de rádio e TV, além da atividade como professor particular do instrumento. Essa faceta chegou a render, na década de 1970, uma série de três álbuns sonoros intitulada “Leve Seu Professor de Violão Para Casa”, com um método prático e fartamente ilustrado para principiantes, conduzido pelas cordas e a voz do próprio mestre.
 
Essa trajetória, que em 1981 o levou a ser homenageado pela Câmara de Vereadores com o título de Cidadão Emérito de Porto Alegre, é detalhada no livro “Jessé Silva: Época de Ouro”, do saudoso jornalista Danilo Ucha. A publicação foi lançada poucas semanas após a morte do biografado, vitimado por um câncer na madrugada de 15 de setembro de 1988 e que deixou a esposa Bernardete, os filhos Sadi, Teka, Fernando e Suzana. E um disco em processo de finalização.
 
Homenagem
 
Testemunha das tantas indas e vindas das manifestações musicais ligadas à Velha Guarda ao longo das décadas, certa vez Jessé assim definiu a situação do seu gênero predileto: “O choro não morreu e nem vai morrer, mas está na UTI. De vez em quando, ele toma um fôlego (…)”.
 
E haja resistência! Nesta terça-feira, 27 de agosto, Jessé Silva será homenageado com um evento especial no Bar do Nito (rua Lucas de Oliveira nº 105, bairro Auxiliadora), a cargo do Regional do Clube do Choro de Porto Alegre, amigos, familiares e ex-colegas. Contato: Suzana Sá (filha) – suzana@sspp.net.br.
(Marcello Campos)
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