Terça-feira, 08 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 7 de abril de 2025
A Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Fabico/UFRGS), em Porto Alegre, realiza nesta terça-feira (8) um encontro alusivo ao Dia do Jornalista (7 de abril). Além de debates, será reinaugurada uma placa em homenagem a Vladimir Herzog, torturado e morto há 50 anos, em São Paulo, pela ditadura militar brasileira.
Com entrada franca, o evento tem início marcado para as 9h no Auditório 1 da Fabico. Endereço: rua Ramiro Barcelos, 2.705 (próximo ao Planetário e à avenida Ipiranga), bairro Santana.
A mediação é do professor Luiz Artur Ferraretto. Na pauta, o papel de Herzog na construção de uma imprensa comprometida com a defesa da democracia e dos direitos humanos. Participam a diretora da Fabico, Ana Taís Martins, alunos e representantes do Diretório Acadêmico da Comunicação (Dacom) e do Centro Acadêmico de Biblioteconomia, Arquivologia e Museologia (Cabam), bem como os seguintes convidados:
– Eduardo Meditsch, professor universitário e pesquisador, integrante do grupo de estudantes que realizou protesto contra a ditadura em 1975.
– Marcia Turcato, jornalista, autora do livro “Reportagem: da Ditadura à Pandemia” e integrante da turma de estudantes da Fabico naquele ano;
– Roberta Baggio, presidente da Comissão da Memória e da Verdade Enrique Serra Padrós, criada para analisar as arbitrariedades cometidas na UFRGS durante a ditadura;
– Sérgio Gomes, diretor da Oboré – Projetos Especiais em Comunicação e Artes, além de integrante do Conselho Deliberativo do Instituto Vladimir Herzog.
Entenda
Vladimir “Vlado” Herzog nasceu em 1937, em Osijek, antiga Iugoslávia (hoje Croácia). Ele se naturalizou brasileiro e iniciou a carreira de jornalista em 1959. Em 1975, dirigia o departamento de jornalismo da TV Cultura de São Paulo, após experiências nas redações do jornal “O Estado de S. Paulo”, da revista “Visão” e da rede inglesa BBC. Também foi professor de telejornalismo na Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP) e na Escola de Comunicações e Artes da USP (ECA-USP).
Em 24 de outubro de 1975, agentes do Exército o convocaram para prestar depoimento sobre supostas ligações com o Partido Comunista Brasileiro (PCB). No dia seguinte, Vlado compareceu espontaneamente ao prédio do Departamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), onde acabou preso com dois colegas de profissão.
Em depoimento, Vlado teria negado qualquer relação com a sigla. Os outros dois jornalistas, que estavam no mesmo prédio do Exército, testemunham que ao serem levados para um corredor, escutaram a ordem para que trouxessem a máquina de choques elétricos. Vladimir Herzog nunca mais foi visto com vida.
A versão oficial do Estado brasileiro, na época, foi a de que o preso teria se enforcado com um cinto, nas grades de uma das celas do DOI-CODI. Mas a farsa acabou desmascarada. Em 2016, na representação feita à Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), familiares da vítima apontaram a violação de direitos, em razão da falsa versão de suicídio e da ocultação de informação sobre este caso.
Agora, universitários daquela época e da atualidade colocarão uma nova placa na UFRGS registrando o ocorrido e preservando a memória dos que defenderam a democracia e os direitos humanos. Com arte do cartunista Neltair Rebés Abreu, o Santiago, a placa inclui o seguinte texto:
“Vlado defendia a democracia e combatia a ditadura. Em sua honra, os e as estudantes da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da UFRGS deram seu nome à sala do diretório acadêmico. Na manhã seguinte, a placa foi arrancada pela direção da faculdade, a mando da ditadura. 50 anos depois, estamos aqui novamente. Para que não se esqueça, para que nunca mais se repita. Ditadura nunca mais!”.
Recentemente, antigos documentos encontrados na Faculdade de Direito da UFRGS mostram que estudantes do curso também eram espionados durante a ditadura. Com os carimbos do Serviço Nacional de Informações (SNI) e de órgãos de repressão, os registros vão compor o acervo da Comissão da Verdade da instituição de ensino superior.
(Marcello Campos)