O presidente boliviano Evo Morales pediu nesta segunda-feira (29) aos familiares de sua ex-companheira, Gabriela Zapata, detida por tráfico de influência e enriquecimento ilícito, que permitam a ele conhecer o filho que até então ele acreditava ter morrido.
“Evidentemente, houve uma divergência sobre o falecimento do bebê. Eu acreditei nas palavras e informações da mãe de meu filho (…), mas não acho que tenha dito falsamente que o bebê morreu”, declarou Morales ante a imprensa no Palácio Quemado.
“Peço à família de Gabriela Zapata que o traga, pois estou esperando, quero conhecê-lo, se me permitirem. Tenho direito de vê-lo, conhecê-lo e cuidar dele”, afirmou ainda.
“Se o menino não aparecer, tenho a obrigação de ir até as instituições, com o juizado de menores, para que este fato seja investigado”, insistiu Morales.
Uma tia de Zapata revelou na semana passada que o menor não morreu e que está com oito ou nove anos. “Sei que esse menino não morreu, nasceu, e o tive nos braços”, disse Pilar Guzmán, tia de Gabriela Zapata, à rede de TV PAT.
Ernesto Fidel
No começo do mês, o jornalista Carlos Valverde revelou que, há 10 anos, Gabriela teve um relacionamento com Morales, com quem teve um filho.
Morales reconheceu que Gabriela foi sua companheira e que teve com ela um filho, que veio a falecer. Disse que, em seguida, os dois encerraram o relacionamento, e que desconhecia o paradeiro de Gabriela. “Não sei por que disseram isso (que morreu), não sei os motivos que os levaram a mentir”, disse Pilar, assinalando que não se pronunciou antes porque aguardava a autorização da sobrinha.
Segundo a tia da ex-companheira de Morales, “o menino se chama Ernesto Fidel. É filho do senhor Evo Morales. Está aqui e tem entre oito e nove anos.”
Gabriela Zapata foi acusada formalmente dos crimes de legitimação de ganhos ilícitos, enriquecimento ilícito e tráfico de influência, na qualidade de gerente de uma empresa chinesa que se beneficiou de contratos milionários com o Estado.
Gabriela permanece detida desde sexta (26), à espera de que um juiz instrua sua prisão formal.
A oposição boliviana acusa Morales de favorecer Zapata e assegura que a relação persistiu por pelo menos até 2015.
Tanto a relação como nascimento do menino eram fatos desconhecidos dos bolivianos.
O próprio Morales se queixou nos últimos dias que este incidente foi utilizado pela oposição para manchar sua imagem durante a campanha para o referendo de domingo, em que os bolivianos rejeitaram uma reforma constitucional que teria permitido a ele disputar um quarto mandato (2020-2025).
Ele chegou a pedir que a Controladoria Geral e o Congresso investigassem as atividades da companhia chinesa e afirmou que não protegeria nem encobrira ninguém.
Para alguns analistas, com a prisão de sua ex-companheira, Morales busca limpar sua imagem. Uma comissão bicameral do Congresso investiga os contratos da empresa chinesa CAMC e os opositores pretendem convocar Morales e Zapata a depor. (AG)