Segunda-feira, 27 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 30 de novembro de 2023
Em gravações divulgadas nesta semana, o parlamentar diz que os servidores deveriam contribuir com parte dos vencimento.
Foto: ReproduçãoEx-assessores do deputado federal André Janones (Avante-MG) o acusam de ficar com até 60% dos salários de funcionários do seu gabinete. A prática é conhecida como “rachadinha”.
Em gravações divulgadas nesta semana, o parlamentar diz que os servidores deveriam contribuir com parte dos vencimentos, inclusive o 13º, para ajudá-lo a quitar dívidas contraídas durante campanha eleitoral. O caso, revelado pelo portal “Metrópoles”, está sendo investigado pela Polícia Federal desde 2021.
Em entrevista ao GLOBO, os ex-assessores Cefas Luiz Paulino e Fabrício Ferreira de Oliveira afirmaram que o repasse dos recursos ocorreram durante o mandato do parlamentar. Janones, embora reconheça a veracidade dos áudios, afirma não ter cometido qualquer irregularidade e argumenta que o pedido revelado na gravação foi feito antes de se eleger, em 2018, para pessoas que ainda não trabalhavam em sua equipe.
O parlamentar disse ainda que não colocou a sugestão em prática, já que a ideia foi “vetada” por sua advogada. De acordo com Paulino, que trabalhou no gabinete de fevereiro de 2019 até outubro do ano passado, com salário de R$ 19.562, os pedidos para repassar parte dos vencimentos começaram no início de 2019, logo após Janones assumir o seu primeiro mandato.
Ele foi reeleito no ano passado. Segundo o ex-funcionário, a responsável pela arrecadação dos recursos juntos aos assessores era Leandra Guedes (Avante), atual prefeita de Ituiutaba (MG).
“O primeiro pedido ocorreu em 5 de fevereiro de 2019, assim que ele se elegeu pela primeira vez. Depois disso, todos passaram a repassar um percentual de seus salários em dinheiro vivo, ninguém fazia transferência bancária para a Leandra. Quem ganhava menos também doava, era uma contribuição proporcional, inclusive em cima do 13º salário de cada um”, diz Paulino.
Ainda de acordo com o ex-funcionário, o parlamentar passou a pedir aos servidores que pagassem suas despesas pessoais, em vez de enviar parte do salário diretamente a ele. Paulino, no entanto, diz que não chegou a repassar os valores.
“No final de 2021, passamos a pagar do próprio bolso, despesas como a hospedagem do site e alimentação do deputado. O objetivo era não caracterizar o repasse, de forma tão aberta. Era a Leandra quem fazia a contabilidade dos gastos que cada um deveria ter e coordenava os saques feitos na primeira fase da rachadinha”, disse o ex-assessor.
Já Oliveira, lotado no gabinete de Janones entre fevereiro de 2019 e dezembro de 2021, afirma que, além das despesas, os servidores eram obrigados a fazer doações ao Avante, partido de Janones. O ex-assessor contou ter começado a trabalhar com o deputado ainda em 2018, de forma voluntária, e ter passado a integrar o seu gabinete em 2019, após a eleição. Ele deixou o gabinete do parlamentar em dezembro de 2021, com um salário de R$ 9.460. De acordo com Oliveira, Janones tratava o assunto com cuidado.
“Eu estava entrando na vida pública, não conhecia o crime de peculato, não sabia o que era uma rachadinha e as implicações da sua ilegalidade. Os repasses dos valores recebidos chegaram a 60% dos totais dos salários, inclusive do 13º. Janones e a Leandra chegou a obrigar funcionários a fazer contribuições mensais ao Avante, com parte dos seus salários. O pedido, na primeira fase do esquema, era para que o dinheiro sacado em espécie fosse repassado na casa de outros funcionários, em uma ou duas parcelas”, afirmou.
Os áudios revelam que o parlamentar dizia considerar justo que sua equipe o ajudasse a zerar as pendências. Janones se pronunciou a respeito do caso por meio dos seus perfis das redes sociais. Ele se referiu ao vazamento do áudio como “denúncias vazias” e disse que “nunca se tornaram uma ação penal ou qualquer processo, por não haver materialiade”.