Sábado, 18 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 31 de maio de 2023
Um conjunto de documentos da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) sobre o 8 de janeiro entregues ao ministro do Supremo Alexandre de Moraes e exibidos nesta tarde aos parlamentares da Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência (CCAI) do Congresso Nacional promete incendiar a CPI sobre os ataques às sedes dos Três Poderes.
O material é composto por dois relatórios da Abin sobre o episódio, e a comparação entre eles mostra que o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) de Lula, então comandado pelo general Gonçalves Dias, adulterou o primeiro relatório de inteligência enviado ao Congresso e retirou do documento os registros de que o general foi informado por mensagens enviadas para seu celular dos crescentes riscos de tumulto e de invasão de prédios públicos.
A informação foi confirmada por parlamentares que tiveram acesso aos dois documentos, numa sessão secreta da CCAI. Os documentos também deverão ser encaminhados à CPI do 8 de janeiro.
Os parlamentares constataram que o primeiro documento, entregue à comissão no dia 20 de janeiro e assinado pelo diretor-adjunto de Gê Dias, Saulo Moura da Cunha, não traz os onze alertas que o ministro recebeu no próprio telefone celular entre 6 e 8 de janeiro sobre a movimentação dos golpistas.
Só que esses mesmos alertas constam de uma outra versão do mesmo documento, enviada pela mesma Abin à mesma comissão, só que em 8 de maio passado – agora com o GSI já sob o comando de outro general, Marco Antonio Amaro dos Santos.
A primeira versão do documento foi enviada ao Congresso por requisição da própria CCAI, logo depois dos atos golpistas. Já a segunda foi entregue por ordem do ministro Alexandre de Moraes, em resposta a um pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR).
No último dia 4, Moraes não só mandou que a Abin e a PM do Distrito Federal fornecessem os relatórios à PGR como também determinou que a comissão do Senado enviasse todos os relatórios de inteligência que recebeu das autoridades.
Para Rogério Carvalho, diretor de Curadoria dos Palácios Presidenciais, “o valor do que foi destruído é incalculável por conta da história que ele representa”.
Na segunda versão do documento, assinada pelo atual diretor-adjunto da agência, Alessandro Moretti, aparecem 11 envios de alertas ao celular do ministro Gê Dias – incluindo três mensagens enviadas só a ele.
Lidas em sequência, elas não deixam dúvidas de que a percepção dos agentes de inteligência do próprio governo identificaram o “risco de ações violentas contra edifícios públicos e autoridades”.
Diz o documento enviado no dia 6 de janeiro às 19h40m: “Destaca-se a convocação por parte de organizadores de caravanas para o deslocamento de manifestantes com acesso a armas e a intenção manifesta de invadir o Congresso Nacional. Outros edifícios da Esplanada dos Ministérios poderiam ser alvo das ações violentas.”
A mensagem seguinte, do dia 7, informa que 18 ônibus de outros estados chegariam a Brasília no dia 8 para engrossar o acampamento em frente ao Quartel-General do Exército. E acrescenta: “Mantêm-se convocações para ações violentas e tentativas de ocupações de prédios públicos, principalmente na Esplanada dos Ministérios”.
Uma das mensagens que só Gê Dias recebeu foi enviada na manhã do próprio dia 8, alertando que cem ônibus já haviam chegado a Brasília para os atos.
O general Gonçalves Dias pediu demissão depois que a CNN exibiu alguns vídeos gravados pelas câmeras do interior do Palácio do Planalto no momento da invasão. Nas imagens, que antes haviam sido colocadas em sigilo pelo próprio ministro do GSI, ele aparece perambulando pelo Palácio sem tomar nenhuma atitude em relação aos invasores, enquanto alguns funcionários indicam a saída aos golpistas.
O ministro também negou em depoimento à Polícia Federal ter recebido alertas da Abin sobre os riscos de invasão e ataques aos edifícios-sede dos Três Poderes.
As negativas do ministro vinham intrigando os investigadores da PF e integrantes da própria Abin, que conheciam apenas o conteúdo dos relatórios originais e não sabiam que o material entregue ao Congresso havia sido adulterado.
A comparação dos dois documentos, feita agora, ajuda a esclarecer por que Gê Dias manteve a versão de que não recebeu nenhum aviso.
O relatório de inteligência foi produzido pela Abin entre os dias 2 e 8 de janeiro e contém uma extensa tabela com três colunas. A primeira indica a data e o horário do envio; a segunda, o conteúdo das mensagens; e na terceira coluna aparecem os nomes contatos de quem recebeu cada mensagem.
Parlamentares que tiveram chance de analisar as duas versões do documento na sala-cofre da CCAI afirmam que a diferença as duas versões é muito evidente. Mas não é possível saber ou inferir, apenas pela observação, quem no GSI suprimiu as informações e como isso foi feito.
A adulteração dos documentos oficiais pelo GSI de Lula, porém, tem tudo para se tornar o primeiro grande foco de investigação da CPMI do golpismo de 8 de janeiro, que abriu seus trabalhos em um plenário do Senado e já soma cerca de 500 pedidos de requerimentos para ouvir autoridades ligadas ao 8 de janeiro, entre outras solicitações de quebra de sigilo.