Em janeiro, o presidente Lula anunciou a demissão do general Júlio César de Arruda do cargo de comandante do Exército. Mas a conversa entre os dois não foi tão dura assim. Antes de demitir, o petista ofereceu ao general um cargo nos Estados Unidos. O general, no entanto, preferiu curtir a família.
Arruda, nomeado por Lula ainda durante o governo Bolsonaro, assumiu em 30 de dezembro de 2022, o que faz dele o chefe da Força Terrestre que menos tempo passou no cargo desde o fim do regime militar: foram apenas 23 dias.
Em toda a redemocratização, apenas dois outros comandantes do Exército chegaram a ficar menos de um ano no cargo – ambos indicados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. Foram eles Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, que chefiou a força por pouco mais de 11 meses, entre 20 de abril de 2021 e 31 de março de 2022, e Marco Antônio Freire Gomes, que o sucedeu por 9 meses, até 30 de dezembro, quando foi substituído por Arruda.
Há outra passagem relâmpago no comando da Força durante o período da ditadura militar. O general Vicente de Paulo Dale Coutinho foi nomeado à chefia do Ministério do Exército (nomenclatura anterior do cargo) no início do governo de Ernesto Geisel, em 15 de março de 1974, mas ocupou a posição por menos de dois meses, falecendo no dia 27 de maio do mesmo ano.
Causas
A demissão do general Arruda se deu por um acúmulo de fatores, como a recusa em permitir prisões no acampamento em frente ao Quartel General do Exército após os ataques na Praça dos Três Poderes, no dia 8 de janeiro, e sua resistência em exonerar o tenente-coronel do Exército Mauro Cesar Barbosa Cid, conhecido como “coronel Cid”.
O militar havia sido nomeado, no apagar das luzes do governo Bolsonaro, para comandar o 1º Batalhão de Ações e Comandos, o 1º BAC, uma das unidades do prestigiado e temido Comando de Operações Especiais, com sede em Goiânia. O batalhão é considerado sensível e estratégico por ter, entre suas atribuições, a de realizar operações de emergência para debelar ameaças a Brasília e, em eventuais situações de guerra, cumprir missões delicadas contra alvos tidos como difíceis. O general, porém, teria se recusado a revogar a nomeação de Cid.
O general exonerado foi substituído pelo então comandante militar do Sudeste, general Tomás Miguel Ribeiro Paiva, que é amigo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, rechaçou a possibilidade de um golpe após a eleição de Lula e chegou a ser chamado de ‘melancia’ por apoiadores de Jair Bolsonaro.