Quinta-feira, 26 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 6 de dezembro de 2024
O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, deve criar problemas ao governo brasileiro, avalia o embaixador Rubens Ricupero, ex-secretário-geral da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad) e ex-ministro da Fazenda e do Meio Ambiente. “Além de ataques verbais, a perspectiva é que dê impulso à extrema direita”, diz.
“Não há dúvida alguma que não haverá simpatia entre ele e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, assim como não há entre Lula e o Javier Milei, da Argentina. São como duas substâncias que não têm qualquer afinidade, e nem como se misturar. Então, é provável que haja divergências, críticas verbais, coisas desse tipo. Mas acho que o impacto negativo ao País é limitado”, projeta Ricupero, que define o bilionário republicano como “disruptivo”.
Ele acrescenta: “No caso do comércio, o mercado norte-americano é importante para nós, não é algo desprezível, mas o dano que Trump pode fazer com tarifas ele já fez no primeiro mandato [2017-2020]. O que o Brasil exporta para os eles são aviões da Embraer, cuja grande parte dos componentes, aliás, é americana. Ou então são produtos manufaturados, fabricados por empresas americanas no Brasil. Acho que somos relativamente pouco vulneráveis a essa mudança com Trump, embora não seja boa para nós.”
A ameaça de Donald Trump de sobretaxar países do Brics (grupo formado pelos emergentes Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) que utilizarem alternativas ao dólar nas transações comerciais, avalia, não sairá do plano retórico. O problema, alerta, vem da aliança internacional da extrema direita, que pode ganhar força agora com Trump.
Apesar de 2024 ter sido um ano marcado pelo êxito da presidência do G20, preparativos para assumir a presidência do Brics e ser anfitrião da COP30, o Brasil fez uma aposta na América Latina ao confiar na possibilidade de o governo venezuelano promover eleições justas e transparentes, mas acabou perdendo. Ricupero comenta:
“Pode-se dizer que o governo brasileiro, de certa maneira, fez uma aposta e perdeu. Porque apostou que ia dar certo o acordo [de Barbados], no qual o Brasil até se engajou para realizar eleições e reconhecer o resultado”, diz. “Mas foi uma derrota, de certa forma, honrosa, porque foi em favor de uma causa nobre.”
Professor, advogado, diplomata e escritor, Rubens Ricupero foi ministro da Fazenda, do Meio Ambiente e da Articulação de Ações na Amazônia Legal durante o governo Itamar Franco (1992-1994), além de embaixador do Brasil na Itália. Com atividade também na área da Economia, ele é presidente honorário do Instituto Fernand Braudel, sediado em São Paulo.
Ricupero – que completará 88 anos em março – vê para o ano que vem uma continuidade da degradação do cenário internacional: “O mundo estará dividido em multipolos de poder”.