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Economia Ex-diretor da Americanas diz que quis parar fraude na pandemia, mas que foi impedido

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Colaboradora afirma que alertou chefe sobre problema contábil já em 2007, mas recebeu ordem para esconder fraude. (Foto: Divulgação)

Era 2020 quando o ex-diretor financeiro da Lojas Americanas, Marcelo da Silva Nunes, viu os resultados positivos da empresa e chegou à conclusão de que seria possível diminuir o nível de fraudes. A iniciativa, no entanto, teria sido abortada quando os resultados da companhia foram comparados com o crescimento maior dos rivais do setor. A fraude continuou para não atrapalhar a imagem de sucesso empresa. Esse é um dos detalhes dos depoimentos de Nunes, um dos dois ex-executivos da empresa que fecharam um acordo de colaboração premiada com o Ministério Público Federal (MPF).

Além de Nunes, a ex-chefe da controladoria da B2W e da Americanas, Flávia Pereira Carneiro Mota, também decidiu colaborar com as investigações. A B2W é a divisão de comércio eletrônico responsável pelos sites da Submarino e da Americanas.com. Flávia revelou ao investigadores que soube da fraude assim que chegou à empresa, em 2007, e alertou um superior, que teria mandado deixar tudo como estava a fim de não prejudicar os preços das ações da Americanas na Bolsa de Valores, após a fusão com a Submarino, em 2006.

As declarações de Nunes e de Flávia revelam como as fraudes foram realizadas na empresa de varejo durante mais de uma década. Os depoimentos serviram de base para o inquérito que resultou na Operação Disclosure, da Polícia Federal (PF), que cumpriu 15 mandatos de busca e apreensão nas casas de suspeitos de participar de esquema de falsificação dos balanços da varejista.

De acordo com a PF, os dois começaram a ser ouvidos em novembro de 2023. Inicialmente, os depoimentos ocorreram na sede do MPF, no Rio, e, posteriormente, foram realizados na Superintendência da PF no Estado, com a participação dos auditores da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que auxiliaram os investigadores decifrando aspectos técnicos do caso.

Em sua delação, a colaboradora afirmou que “havia uma expectativa de mercado para que a cotação das ações chegasse a tal patamar, e esta expectativa era atingida com base nos resultado apresentados pelas Americanas”.

Ainda durante seus depoimentos à PF, Flávia entregou mensagens que trocou com Carlos Eduardo Rosalba Padilha, então diretor de Relações com Investidores da Lojas Americana. Uma delas se tratava de uma conversa mantida em 2018, na qual Padilha afirmaria para Flávia: “Fabien (Picavet, diretor executivo de Relações com o Investidor) me retornou dizendo que não está bom, margem, resultado financeiro e lucro. Ele te falou isso? A ideia de vocês sentarem é pra ajudar”. De acordo com o delegado, as mensagens de Padilha mostravam “a demanda por números falsos que atendessem melhor à expectativa dos investidores”.

Em outro trecho da delação, Flávia conta quais os números eram importantes para a dinâmica das fraudes na empresa. A evolução do capital de giro em relação aos períodos anteriores de divulgação era uma dessas métricas “bem importantes para a Lojas Americanas”. De acordo com o relato dela à PF, havia um acompanhamento mensal.

Flávia contou também que, ao entrar em 2007, na B2W, realizou “uma prática comum a todo contador” que começa em uma empresa: “fez uma checagem no sistema para verificar se os números estavam todos corretos”.

De acordo com sua delação, “já nesse momento”, ela “identificou inconsistências, e gerou uma planilha apontando essas irregularidades”. Naquela época, segundo ela, havia três pessoas terceirizadas na contabilidade. Por isso, ela achou que os erros eram resultado de negligência da contabilidade, já que “antes da fusão com Submarino, em 2006, a Americanas.com era uma empresa de capital fechado”.

É aí que Flávia diz ter recebido a primeira ordem de um superior para fazer vista grossa. Ela conta que conversou com Padilha sobre essas situações e ele “pediu para resolver esse problema ‘em doses homeopáticas’, já que a empresa iria abrir o capital, e não poderiam dar um baque no resultado logo nesse momento”. De acordo com ela, na época, as irregularidades eram praticadas em volume “muitíssimo inferior ao que passou a ser praticado nos últimos anos”.

Delação de Nunes

Além dela, os policiais federais fecharam uma delação com Nunes. Ele informou que, nas reuniões com a auditoria (KPMG), sempre se fez tudo para esconder as fraudes dos auditores, e “o processo de fechamento de resultado de final de ano era sempre muito traumático porque tinham que ser cometidas várias fraudes para esconder da auditoria”.

Em um dos pontos mais reveladores do depoimento, Nunes contou ainda que houve uma oportunidade para a empresa cessar com as fraudes e acertar os seus balanços. Era 2020. Em razão da pandemia, o resultado das operações digitais passou a ser muito bom. “A partir de março ou abril de 2020 foi uma oportunidade de fazer um Ebitda (lucro operacional) bom, e que esse foi um período em que se aproveitou para aumentar as margens dos produtos, para o resultado divulgado se aproximar dos números da realidade. Tanto que a quantidade de lançamentos irreais foi baixa”, informou.

Entretanto, a B2W começou a crescer menos que os concorrentes. Quando Nunes tentou nessa época fazer os ajustes buscando parar as fraudes, “e que nessa época conseguiram reduzir muito”, tal redução fez com que a B2W passasse a crescer menos que os concorrentes. Então, segundo ele, a direção da empresa reagiu.

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