O ex-ministro dos Diretos Humanos Silvio Almeida prestou depoimento nessa terça-feira (25) à Polícia Federal (PF) por mais de duas horas e meia. Almeida é investigado em um inquérito que apura se ele cometeu o crime de importunação ou assédio sexual contra algumas mulheres, entre elas a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco. Ele respondeu a todas as perguntas da PF e não recorreu ao direito de ficar em silêncio.
Quando as denúncias vieram à tona, em setembro de 2024, ele foi demitido do cargo e, desde então, nega todas as acusações, classificando-as como “ilações absurdas”.
A defesa de Almeida não quis se pronunciar sobre o depoimento, argumentando que o caso está sob sigilo judicial. Os advogados do ex-ministro tentaram adiar a oitiva, mas a PF manteve o procedimento. Almeida chegou no prédio por volta das 14h e deixou o local às 18h.
Ao longo de seis meses de investigação, segundo o jornal O Globo, pelo menos três mulheres prestaram depoimento à PF na condição de vítima — Anielle Franco, a professora Isabel Rodrigues e outra mulher cuja identidade foi preservada. O caso tramita no Supremo Tribunal Federal sob relatoria do ministro André Mendonça.
Anielle relatou aos investigadores que foi alvo de atitudes desrespeitosas e importunações desde a época da transição de governo, no fim de 2022. O ato mais ousado teria ocorrido em uma reunião oficial ocorrida em maio de 2023 na qual Almeida se sentou ao lado de Anielle.
Ela afirmou que o então ministro colocou a mão nas suas pernas por baixo da mesa. O encontro contou com a participação de pelo menos outras onze pessoas, entre elas o diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, e o presidente da Agência Nacional de Aviação Civil, Tiago Pereira. O depoimento de Anielle ocorreu em outubro do ano passado.
Internamente, pessoas próximas a Almeida questionam se há a gravação dessa reunião, uma vez que algumas pessoas participaram do encontro por videoconferência.
Em setembro do ano passado, após a denúncia de Anielle vir à tona, a professora Isabel Rodrigues publicou um vídeo nas suas redes sociais, dizendo ter sido vítima de Almeida durante um encontro ocorrido em 3 de agosto de 2019. Na época, Isabel e Silvio eram professores.
“Fomos almoçar com vários alunos do curso. Eu sentei do lado do Silvio, ele estava do lado direito, eu estava de saia. Ele levantou a saia e colocou a mão nas minhas partes íntimas. Colocou a mão com vontade. Eu fiquei estarrecida. Fiquei com vergonha das pessoas, porque é assim que as vítimas se sentem”, afirmou ela no vídeo.
A PF também ouviu como testemunhas assessoras de Anielle e pessoas próximas às vítimas. A avaliação de fontes que acompanham as investigações é que os depoimentos são contundentes, mas há dificuldade para reunir material probatório sobre as ocorrências.
Com a oitiva de Almeida, o inquérito chega na sua reta final. A PF deve decidir agora se indicia ou não o ex-ministro por importunação sexual, o que deve acontecer nas próximas semanas.
Em entrevista ao portal Uol, o ex-ministro negou que tenha praticado assédio contra Anielle e as outras mulheres (“não vou pedir desculpas se não fiz nada de errado”) e disse estar sendo alvo de “fofocas e intrigas” para “queimá-lo”. Segundo o ex-ministro, Anielle “se perdeu num personagem” e “participou do espalhamento de fofocas e intrigas sobre mim”.
“Eu passaria a mão nas pernas de uma ministra numa reunião na frente do diretor geral da PF? Isso é um descalabro”, questionou Almeida.
Na segunda-feira (24), Anielle rebateu às declarações do ex-ministro, taxando-as de “inaceitáveis”.
“A tentativa de descredibilizar vítimas de assédio sexual, minimizar suas dores e transformar relatos graves em “fofocas” e “brigas políticas” é inaceitável. Na véspera de prestar depoimento à Polícia Federal como investigado, o acusado escolheu utilizar um espaço público para atacar e desqualificar as denúncias, adotando uma postura que perpetua o ciclo de violência e intimida outras vítimas”, escreveu a ministra.
O inquérito corre no Supremo porque o suposto assédio contra Anielle teria ocorrido quando Almeida ainda era ministro do governo Lula. As outras denúncias sob apuração da PF, no entanto, tratam de um período anterior à posse do ex-ministro, que é advogado e professor universitário. Na última semana, Mendonça autorizou a prorrogação da investigação por mais 60 dias, mas a PF deve conclui-la antes desse prazo. (O Globo)