Integrante da “velha-guarda” do PT, o ex-presidente da Câmara dos Deputados João Paulo Cunha atua cada vez mais nos bastidores da política. Um dos conselheiros do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ele tem bom trânsito tanto no Palácio do Planalto como no Congresso e acha que o governo precisa se preparar para enfrentar o avanço da centro-direita. O caminho apontado por ele é bem pragmático: na sua avaliação, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), deve ser alçado à equipe de Lula.
“O ideal é Lira assumir um ministério em 2025 porque temos de trazer o Centrão para mais perto”, disse João Paulo. “Precisamos consolidar essa banda do Centrão que dialoga com a gente para a disputa de 2026.”
Alvejado pelo escândalo do mensalão, João Paulo terminou de estudar Direito quando ainda estava na prisão. Alguns anos depois, sua banca de mestrado contou com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes e também com Paulo Gonet, hoje procurador-geral da República.
Agora, o ex-deputado prepara uma autobiografia, na qual promete contar passagens da época em que comandou a Câmara, de 2003 a 2005, e, antes, o PT paulista.
Eleições municipais
Sobre o baixo desempenho do PT no 1º turno das eleições, principalmente em São Paulo, João Paulo explica que o partido sempre ficou muito aquém de siglas de centro. A diferença é que, em alguns períodos, o PT governou muitos eleitores. Governou São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, grandes cidades do interior paulista e do ABC. “O que me espanta agora é que a crise do PT seja mais de representação. O partido carece, nesse momento, de capilaridade, de representação social. Efetivamente, deixamos muito a desejar nesse processo eleitoral”, disse ele.
Essa falta de representação ocorreu, segundo ele, porque o “PT envelheceu muito rapidamente, não conseguiu fazer o pacto geracional e sofre as consequências de uma mudança que nem todos captaram. É um fenômeno mundial”. Para ele, o PT precisa atualizar a leitura do capitalismo no Brasil, que mudou muito, e também suas bandeiras e propostas. “É necessário ter a compreensão de como os trabalhadores hoje estão se organizando”.
O petista defende que o governo precisa fazer ajustes urgentes. Ele cita como exemplo a comunicação do governo. A direita, na sua avaliação, conseguiu captar com mais facilidade uma nova forma de se comunicar com a população, juntando três aspectos: concepção liberal da economia, visão conservadora dos costumes e religiosidade. O PT e o governo ainda não conseguiram enfrentar isso.
Centrão
Contudo, João Paulo entende que “a direita está hoje com mais problemas do que a esquerda. Está dividida, tem brigas em público. E entrou um fenômeno na pauta sobre o qual o governo precisa se atentar, que é o Centrão”.
Uma parte grande do Centrão está no governo. O PP, o União Brasil, o Republicanos, o PSD têm ministérios, mas não têm um compromisso para 2026 mais sólido. Nesse caso, é preciso consolidar essa banda do Centrão que dialoga com a gente para 2026. “Eu acho que o presidente da Câmara tem que ir para o governo. O ideal é Arthur Lira assumir um ministério em 2025 porque temos de trazer o Centrão para mais perto. E, nesse pacto, em particular na Câmara, os deputados Elmar Nascimento (União Brasil), Antônio Brito (PSD), Hugo Motta (Republicanos) e Marcos Pereira (Republicanos) precisam ter uma saída honrosa. Um deles (fora Pereira, que desistiu) vai ser presidente da Câmara a partir de fevereiro. E o que se faz com os outros? É quase um combo ali”.
Questionado se tal atitude configuraria um “toma lá dá cá”, João Paulo defendeu o governo precisa discutir com esse grupo para ver como acomoda cada um. E também é necessário ter uma conversa mais profunda com Gilberto Kassab porque o PSD é um partido importante. Essa disputa não pode produzir derrotados.