Sexta-feira, 27 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 2 de fevereiro de 2024
Sentado na primeira fila do Salão Nobre do Palácio do Planalto, o ex-presidente Fernando Collor de Mello foi ignorado nos discursos durante a solenidade de posse de Ricardo Lewandowski como ministro da Justiça. Collor não foi citado sequer uma vez nos discursos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de Flávio Dino — novo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) — e do próprio Lewandowski.
As falas dos três, juntas, duraram cerca de uma hora. Collor estava sentado na fileira principal entre os convidados, ao lado do ex-presidente José Sarney. Na mesma fila, à esquerda, estavam os ministros Alexandre de Moraes, Gilmar Mendes, Cármen Lúcia, Dias Toffoli, Luiz Fux e Kássio Nunes, do STF.
Sarney, ao contrário de Collor, foi citado pelos três. Dino, o primeiro a discursar, fez referência a ele ao lembrar da revoada dos guarás no pôr-do-sol no Maranhão. Lewandowski, o segundo a usar a palavra, disse que estava “extremamente honrado” com a presença de Sarney.
E Lula, o último a tomar a palavra, citou Sarney ao fazer uma brincadeira com Dino, que assumirá o mandato parlamentar por três semanas antes de ocupar uma cadeira no STF, ao dizer que ser eleito senador é “chegar ao céu da política”.
“Dizem que o Senado é um lugar extraordinário pela tranquilidade, mandato de oito anos, não precisa a cada quatro anos pedir voto e ser xingado e maltratado nas ruas”, brincou o presidente.
Collor foi o primeiro presidente eleito pelo voto direto depois da ditadura, em 1989. E foi afastado do cargo dois anos depois, em dezembro de 1992, após processo de impeachment. Das acusações que o levaram à perda do cargo, foi absolvido pelo STF em 2014.
Seu governo foi marcado pela implementação do Plano Collor, pelo início de um programa nacional de desestatização e a abertura do mercado nacional às importações, o que teve incisivo reflexo no aumento do mercado consumidor de carros.
O plano, que no início teve uma boa aceitação, acabou por aprofundar a recessão econômica, colaborada pela extinção, em 1990, de mais de 920 mil postos de trabalho; junto a isso, denúncias de corrupção política envolvendo o tesoureiro de Collor, Paulo César Farias, feitas por seu irmão Pedro Collor de Mello, culminaram com um processo de impugnação de mandato.
O processo, antes de aprovado, fez com que o presidente renunciasse ao cargo em 29 de dezembro de 1992, deixando-o para seu vice Itamar Franco, horas antes de ser condenado pelo Senado Federal por crime de responsabilidade, perdendo seus direitos políticos por oito anos.