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Ex-presidente do Banco Central diz que o Brasil “recuperou seu futuro” com a estabilidade trazida pelo Plano Real

Economista Gustavo Franco aborda as perspectivas econômicas do Brasil para o ano das eleições. (Foto: reprodução)

Presidente do Banco Central (BC) quando o real passou pelo seu maior teste, com um ataque especulativo que levava quase 1 bilhão de dólares de reservas cambiais diariamente, Gustavo Franco minimiza aquele momento e diz que, depois de 30 anos, a estabilidade monetária conquistada mostrou que “não tinha nenhum truque, nenhuma farsa”. “Ninguém teve perda. Essa conversa acabou”, afirma, em referência às críticas de que a maxidesvalorização do real teria sido adiada por causa da corrida eleitoral de 1998.

Franco pediu demissão do BC em janeiro de 1999, quando o governo, logo após a reeleição de Fernando Henrique Cardoso, decidiu flexibilizar o regime de bandas cambiais, diante da sangria das reservas internacionais – pouco depois o real passaria a flutuar livremente. Franco era contra a mudança no câmbio.

Em entrevista ele avalia que o pior momento da implantação do plano foi na véspera do lançamento da Unidade Real de Valor (URV), que meses depois seria convertida no real, numa reunião no gabinete do presidente Itamar Franco com o então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso. “Nesse dia, eu vi o ministro da Fazenda pedir demissão três vezes, não foi uma, foram três vezes. Levantar da mesa e dizer: ‘Assim não dá. Eu vou me embora'”, conta.

Estabilidade

Confira a fala de Gustavo Franco sobre a importância de ter uma moeda estável por 30 anos:

“Hoje todo mundo gosta do real, mas no começo não foi assim, não. Vivemos a experiência de degradação da moeda. Quem viveu terá guardado na memória de como é profundo, é uma ferida profunda. O simbolismo associado à moeda é grande. A moeda é como a bandeira e o hino. Vê-la derreter é a sensação que você tem vendo a bandeira pegar fogo. É ruim. É um pedaço de cada um de nós. A lembrança do período da hiperinflação no Brasil é um torpor de decadência, de valores que vão se desagregando em valores monetários e outros valores também. Também nos fez piores. É uma experiência ruim para o nosso organismo. Talvez tenha estragado a nossa saúde econômica para sempre. Como o alcoolismo faz com as pessoas que tiveram o vício. Nós nos livramos dele faz 30 anos. É muito bom. Mas a experiência foi super profunda, difícil, marcante, e a batalha foi difícil.

Recuperamos o nosso futuro e junto com ele um símbolo nacional que também resgatava o nosso passado e todos os heróis nacionais humilhados em cédulas que passaram a valer nada (antes do real, Barão de Mauá, Machado de Assis, Marechal Rondon foram algumas das personalidades que estampavam as cédulas, mas com a inflação alta, essas cédulas perdiam valor muito rápido). Hoje a gente tem o real. Imagina no tempo que a gente não tinha o real. O que a gente tinha? Era o imaginário, era o delírio. Vivemos um delírio longo, que foi crítico nos últimos dez anos, até 1994, a inflação média mensal deve ter sido 15%, 20% ao mês, em média. Impensável com os olhos de hoje. As pessoas têm uma memória disso, dos pais, de ouvir na mesa de jantar histórias folclóricas de inflação. O que a gente tem hoje (de inflação) durante um ano inteiro era de um fim de semana. Foi triste. Foi horroroso.”

As informações são do O Globo.

 

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