O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump compareceu perante o tribunal de Nova York onde teve início o julgamento em que é acusado de inflacionar o valor de propriedades e ativos financeiros, juntamente com dois dos seus filhos. Antes da sessão, a procuradora-geral Letitia James alertou que “a justiça prevalecerá”. O caso prenuncia uma maratona judicial para o principal candidato dos republicanos nas eleições presidenciais de 2024.
Trump falou a repórteres antes de entrar no tribunal e chamou o julgamento de “simulacro” de justiça e disse que parecia “um show de horror”. Também voltou a falar em “caça às bruxas”, argumentando que não cometeu nenhum crime, apesar das evidências apresentadas pelas autoridades.
A procuradora-geral de Nova York, Letitia James, já conseguiu revogar os certificados que permitem que as empresas de Trump em Nova York operem no estado. Mas ela quer mais: seu processo pede ao juiz que destitua os Trump da liderança dos negócios da família, que os impeça permanentemente de voltar a gerir um negócio em Nova York e que os multe em US$ 250 milhões (cerca de R$ 1,2 bilhão).
O ex-presidente, de 77 anos, e seus advogados deram a entender que ele poderia comparecer pelo menos aos dois primeiros dias do julgamento na Suprema Corte de Nova York.
“Vou ao tribunal amanhã de manhã [segunda-feira] para lutar pelo meu nome e pela minha reputação”, escreveu em sua plataforma Truth Social no domingo à noite. “Todo este caso é uma farsa!!!”
Processos
Embora não possa ser condenado à prisão por esta acusação, o julgamento será um prelúdio de uma série de processos judiciais que poderão prejudicar a sua campanha pela indicação republicana. O bilionário é acusado criminalmente em quatro casos diferentes, o que até o momento não afetou sua popularidade entre as bases republicanas.
Trump deve comparecer ao tribunal federal de Washington em 4 de março para responder às acusações de tentativa — quando estava na Casa Branca — de reverter o resultado das eleições presidenciais de 2020, vencidas por Joe Biden. Em seguida, comparecerá novamente ao tribunal em Nova York por fraude contábil e, depois, na Flórida, pela gestão negligente de documentos confidenciais após deixar a presidência.
O julgamento que começou nesta segunda-feira (2) assumiu de repente uma importância considerável na última semana. O juiz Arthur Engoron, que o preside, decidiu que a “fraude contínua” foi comprovada e que o gabinete da Procuradoria-Geral do estado de Nova York já tinha provado que Donald Trump e os diretores do seu grupo haviam “supervalorizado” os seus ativos entre US$ 812 milhões e US$ 2,2 bilhões entre 2014 e 2021 (cerca de R$ 2,1 bilhões e R$ 12,2 bilhões nas respectivas cotações da época).
Golpe duro
O juiz ordenou a revogação das licenças comerciais no estado de Nova York de Donald Trump e de dois dos seus filhos, Eric Trump e Donald Trump Jr, vice-presidentes executivos da Trump Organization, além do confisco das empresas que são alvo do processo, que serão confiadas aos liquidatários.
Se implementadas, as sanções representariam “um golpe duro na capacidade de Donald Trump de fazer negócios no estado de Nova York”, afirmou Will Thomas, professor de Direito Comercial na Universidade de Michigan.
Donald Trump, que acumulou sua fortuna no setor imobiliário e nos cassinos na década de 1980 e prometeu governar os Estados Unidos como as suas empresas, perderia então o controle de vários edifícios emblemáticos do seu grupo, como a Trump Tower, na 5ª Avenida de Manhattan.
As propriedades estão no centro das acusações da procuradora Letitia James: a superfície do apartamento do empresário na Trump Tower triplicou e o edifício no número 40 de Wall Street foi supervalorizado entre US$ 200 milhões e US$ 300 milhões (R$ 1 bilhão e R$ 1,5 bilhão na cotação atual). A luxuosa residência da Trump Organization em Mar-a-Lago, na Flórida, e vários campos de golfe também aparecem no dossiê.
A procuradora pede ainda o reconhecimento de outras violações da legislação financeira e uma multa de US$ 250 milhões (R$ 1,2 bilhão na cotação atual).