Segunda-feira, 21 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 20 de abril de 2025
A ex-primeira-dama do Peru Nadine Heredia recebeu nessa semana asilo diplomático no Brasil um dia após ser condenada junto ao marido, o ex-presidente Ollanta Humala, por lavagem de dinheiro num processo envolvendo o governo da Venezuela e a construtora brasileira Odebrecht.
Conhecida no Peru por sua influência sobre o marido enquanto ele era presidente (chegou a ser apelidada de “presidenta Nadine”), Nadine, hoje com 48 anos, foi presidente do Partido Nacionalista e embaixadora da Organização para Alimentação e Agricultura (FAO) das Nações Unidas, promovendo a quinoa, alimento bastante apreciado no Peru.
Ela chegou a ser cotada para ser uma possível sucessora do marido à Presidência do Peru.
Na época, Nadine Heredia se defendia dizendo que “ser primeira-dama não é ser uma funcionária pública com funções e atribuições estritamente definidas, o papel tem múltiplos aspectos e algumas esposas de presidentes escolheram ter maior protagonismo e outras, menos. Isso é assim, não só na história do Peru”.
Formada em comunicação e pós-graduada em sociologia, ela conheceu Ollanta Humala em Paris, enquanto os dois viviam na França.
O casal era próximo a líderes de esquerda da América Latina, como o então presidente venezuelano Hugo Chávez.
Humala (e Nadine) assumiu o poder sob a constante suspeita de que seu governo enveredaria por um caminho de esquerda chavista (algo que nunca aconteceu, embora eles não tenham conseguido se desvincular totalmente desse rótulo).
Lavagem de dinheiro
A investigação contra Ollanta Humala e Nadine Heredia começou logo após o fim do mandato presidencial dele, em 2016. De acordo com a promotoria, Nadine desempenhou um papel central na lavagem de dinheiro relacionada às campanhas presidenciais do marido em 2006 e 2011.
O Judiciário peruano determinou que os líderes do Partido Nacionalista tinham “um modus operandi” para encobrir as contribuições de campanha de Humala, que incluía a inclusão de falsos doadores.
Nadine seria uma das líderes da organização criminosa que utilizou o Partido Nacionalista como instrumento para legitimar recursos ilícitos provenientes do governo da Venezuela e da Odebrecht.
Além disso, a ex-primeira-dama foi acusada de ocultar bens adquiridos com esses fundos ilegais – motivo pelo qual, inicialmente, a promotoria pediu uma pena maior a ela do que ao ex-presidente. O irmão dela, Ilan Heredia, também foi condenado no esquema.
Nadine chegou a ser presa em julho de 2017, mas foi liberada em abril de 2018.
Nos últimos anos, ela pediu algumas vezes autorizações para deixar o Peru por questões de saúde, sem sucesso. Ela alega sofrer de hiperparatireoidismo primário.
Escândalo da Odebrecht
O escândalo da Odebrecht foi um caso de corrupção em massa que abalou a América Latina e atingiu vários governos da região.
A construtora brasileira estabeleceu uma rede de suborno e financiamento ilegal de campanhas políticas para garantir contratos e obras públicas, às vezes com custos inflacionados.
O escândalo foi descoberto em 2014 no Brasil com a chamada Operação Lava Jato, uma investigação de lavagem de dinheiro envolvendo inicialmente a empresa estatal de petróleo Petrobras, que acabou levando a uma cascata de investigações e revelações em toda a região.
O então presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, foi condenado por receber pagamentos da empresa de construção, assim como o ex-vice-presidente do Equador, Jorge Glas. Os processos contra ele foram posteriormente anulados.
No Peru, o ex-presidente Alejandro Toledo foi condenado e permanece preso por receber propinas da construtora em troca de uma concessão de rodovia. Outro ex-presidente, Pedro Pablo Kuczynski, também é acusado de ligação com o esquema da Odebrecht.
De acordo com o tribunal que o condenou, estima-se que Humala tenha recebido financiamento da Odebrecht no valor de cerca de US$ 3 milhões.