Sábado, 23 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 21 de março de 2021
O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) abriu investigação para apurar se um ex-superintendente adjunto, que é servidor do órgão, vem sendo contratado para dar pareceres em processos que correm no conselho.
Kennys Machado é funcionário público federal e desde novembro de 2020 está de licença para tratar de interesse particular — vigente até maio deste ano.
Segundo a corregedoria do Cade, que pediu a investigação, a atividade em processos de análise de atos de concentração deveria ter sido informada previamente. Na sexta-feira (19) à noite, Machado informou a reportagem que “já houve autorização prévia da Comissão de Ética Pública para a atividade questionada na denúncia”.
Agora, o órgão antitruste apura a conduta do servidor em duas frentes: uma na comissão de ética e outra na corregedoria do órgão.
Reunião dos chefes
O presidente Jair Bolsonaro pretende realizar reunião ao lado dos chefes dos dois outros poderes, do procurador-geral da República e de alguns governadores, na próxima quarta-feira (24).
A ocasião pode ser uma boa oportunidade para discutir a assunção, pelo Poder Executivo, do papel que lhe cabe na indispensável coordenação de ações para combater a covid-19. Esse papel é especialmente relevante na busca de vacinas e na tarefa de educar a sociedade em prol de comportamentos favoráveis a conter a disseminação do vírus, que tem sido muito rápida nas últimas semanas.
O aprendizado no enfrentamento da Gripe Espanhola de 1918-19, que matou entre 50 e 100 milhões de pessoas em todo o mundo, foi o de que a eficácia para lidar com a doença dependeu de quatro tipos de ação: distanciamento social (incluindo lockdowns), uso de máscaras, higiene das mãos e vacinação em massa. Curiosamente, Bolsonaro tem-se manifestado contra todos, exceto, talvez, a lavagem permanente das mãos.
No encontro da quarta-feira, os chefes de poder poderiam convidar especialistas para expor como outros chefes de governo foram bem-sucedidos em evitar que a doença se transformasse em desastre sanitário em seus países.
Os casos da Nova Zelândia (25 mortos até agora) e de outros líderes da Ásia – casos de Coreia do Sul, Taiwan e Singapura – podem ser ilustrativos. Aqui na América Latina, o Chile tem sido excelente exemplo de sucesso. Na Europa, destacam-se Reino Unido e Portugal.
Exemplos mundo afora poderiam convencer Bolsonaro de que o lockdown não significa uma medida para apeá-lo do poder, mas uma estratégia para controlar a atual e excessiva taxa de contaminação da covid-19, reduzir as internações hospitalares e a sobrecarga dos serviços de saúde, e evitar que as pessoas morram na fila das UTIs.
Em resumo, a adoção de medidas em linha com as melhores práticas e protocolos internacionais deve reduzir o ritmo de novos casos e mortes, salvando milhares de vidas.
É difícil acreditar que Bolsonaro se disponha a ouvir esses conselhos, seguindo-os à risca. Ele tem-se demonstrado insensível a achados comprovados pela ciência, insistido em tratamentos ineficazes e boicotando medidas para enfrentar adequadamente a crise sanitária por que passa o país, a pior da história. Mesmo assim, como conselhos nada custam, valeria a pena tentar apresentá-los na reunião.