Quarta-feira, 08 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 14 de junho de 2024
Pesquisa feita pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), organização social supervisionada pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, mostra o peso da formação acadêmica nas taxas de empregabilidade no País. Ao longo de 12 anos, o número de empregos formais de mestres cresceu em proporção cinco vezes maior que o do emprego em geral no Brasil, segundo o trabalho. No caso dos doutores, o ritmo de crescimento foi sete vezes maior do que a da população em geral.
O estudo mostra que, em 2009 havia 184.860 mestres empregados no Brasil ante 441.983 em 2021, salto de 139%. O aumento em relação à empregabilidade de doutores foi ainda maior: 73.767 empregados em 2009, ante 215.530 em 2021, crescimento de 192%.
Apesar disso, o Brasil segue com taxa de doutores empregados que representa quase um terço do que se vê na União Europeia, por exemplo. O dado leva em conta o número de doutores em postos de trabalho a cada mil pessoas empregadas.
Os dados da nova pesquisa levam em conta informações da Plataforma Sucupira, mantida pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), e da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), do Ministério do Trabalho e do Emprego (MTE).
Coordenadora do estudo Brasil: mestres e doutores do CGEE, Sofia Daher, afirma que a pesquisa mostrou ainda que esses postos de emprego costumam ter maior estabilidade, mesmo em períodos de crise.
“Mesmo em épocas que o PIB foi negativo e houve queda de empregados, o número de mestres e doutores empregados continuou aumentando. De fato, as mais altas titulações levam a uma estabilidade maior e a uma procura por esse tipo de profissional. A gente entende que é uma mão-de-obra altamente qualificada e é mais difícil de ser substituída”, afirma Sofia.
Segundo a pesquisa, em 2021, o Brasil tinha 4,4 doutores por mil empregados, ante 12,9 na União Europeia. “Ainda tem um caminho longo pela frente. Na comparação internacional a gente nota que o Brasil, comparado com outros países da Europa e da OCDE, ainda tem participação acanhada nessa proporção”, diz ela.
“A gente deveria fazer um esforço para incorporar muito mais mestres e doutores na força de trabalho”, acrescenta Sofia.
A expansão da pós-graduação no Brasil é relativamente recente e, de acordo com especialistas, tem relação com a interiorização, sobretudo das universidades federais, ao longo dos últimos 20 anos. Os dados mostram maior distribuição dos programas de mestrado e doutorado.
Em 1996, por exemplo, 62,3% dos cursos de mestrado do País estavam no Sudeste. Já em 2021, a concentração caiu para 42,4%. Uma das regiões com maior incremento foi o Nordeste, que saltou de 14,5% para 20,7% dos mestrados nesse período. No doutorado a concentração era ainda maior, com 79,2% dos cursos no Sudeste em 1996. Em 2021, a taxa caiu para 49,6%.
Área da educação
Mesmo com o aumento da empregabilidade e mais distribuição, essa força de trabalho ainda é majoritariamente aproveitada na própria área da educação, como professores e pesquisadores. O dado evidencia certa distância do mercado de trabalho tradicional.
Conforme a pesquisa, 37,7% dos mestres empregados no Brasil ocupavam cargos na área educacional. O número de concentração dos doutores nessa área chegou a 72%. Em segundo lugar, para ambas as titulações, aparece a administração pública, e postos de defesa e seguridade social.
“É importante que a educação absorva muito porque essas pessoas formam outras pessoas. É necessário que tenha grande quantidade de doutores envolvidos na formação dos profissionais de todos os lugares. Mas, sim, a participação dos setores empresariais ainda é menor”, afirma Sofia.
A pesquisadora pondera, no entanto, que o estudo revela tendência de crescimento na contratação de mestres por empresas privadas. “Mostra interesse do setor empresarial privado na contratação desse profissional”, diz.
Cláudia Nonato, de 56 anos, é pós-doutoranda na Universidade de São Paulo (USP) e fez mestrado e doutorado na área de jornalismo. No entanto, desde 2019, ela busca uma posição no mercado de trabalho. O fechamento ou a restruturação de faculdades particulares contribuiu para reduzir as oportunidades. Nas universidades públicas, os concursos ficaram restritos por muitos anos – a exemplo da própria USP, em que os processos seletivos ficaram suspensos entre 2015 e 2022.
Segundo a pesquisadora, as instituições costumam priorizar profissionais com mestrado e recém-formados, para garantir remunerações mais baixas, o que complica a vida de quem tem doutorado. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.