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Existe vida após a morte? Cientistas estudam reencarnação e comunicação com o “além'” entenda

Pequeno grupo de acadêmicos dos Estados Unidos tentam descobrir a verdade por trás da morte. (Foto: Pixabay)

Em um escritório no centro de Charlottesville, Virgínia, um pequeno baú de couro fica em cima de um arquivo. Dentro há uma fechadura com combinação, fechada há mais de 50 anos. Quem colocou está morto.

Por si só, a fechadura não tem nada de especial: é uma daquelas usadas na academia. Possui um código de uma palavra de seis letras convertida em números que era conhecido apenas pelo psiquiatra Ian Stevenson, que o elaborou muito antes de morrer e anos antes de se aposentar como diretor da Divisão de Estudos Perceptivos (DOPS, em inglês), uma unidade de pesquisa parapsicológica que ele fundou na Faculdade de Medicina da Universidade da Virgínia em 1967.

Stevenson chamou esse experimento de Teste de Sobrevivência da Fechadura Combinada. Ele pensou que, se pudesse transmitir o código a alguém a partir do túmulo, poderia ajudar a responder as questões que o consumiram durante a vida: a comunicação do “além” é possível? Ou, simplesmente: a reencarnação é real?

Este último enigma — a sobrevivência da consciência após a morte — permanece na vanguarda da investigação da divisão. A equipe registrou centenas de casos de crianças que afirmam se lembrar de vidas passadas em todo o mundo, exceto na Antártida.

“Só porque não procuramos casos lá”, disse Jim Tucker, que há mais de duas décadas investiga relatos de vidas passadas, e aposentou-se recentemente após ter sido diretor do DOPS desde 2015.

Vaga aberta

De acordo com anúncio de emprego publicado pela Faculdade de Medicina, além de reputação acadêmica, o candidato ideal para substituir Tucker deve ter “um histórico de pesquisas rigorosas sobre experiências humanas extraordinárias, como a relação da mente com o corpo e a possibilidade de que a consciência sobreviva à morte física”.

Nenhum dos oito membros principais da equipe possui a formação acadêmica necessária para desempenhar a função, por isso é necessário encontrar alguém de fora.

O DOPS é uma instituição curiosa. Existem apenas alguns laboratórios no mundo que possuem linhas de pesquisa semelhantes — a Unidade de Parapsicologia Koestler da Universidade de Edimburgo, por exemplo —, mas o DOPS é a iniciativa mais proeminente. A única outra grande unidade de parapsicologia nos Estados Unidos era o Laboratório de Pesquisa de Anomalias de Engenharia de Princeton, ou PEAR, que se concentrava na telecinesia e na percepção extrassensorial. Essa unidade foi fechada em 2007.

O clima dentro do DOPS é calmo e de estudos. Existem apenas alguns sinais das atividades da equipe. No laboratório subterrâneo há uma gaiola de Faraday revestida de cobre usada para testar indivíduos em experiências fora do corpo, e cabeças de manequim de espuma com tampas de EEG. No andar de cima, ao longo de toda a parede da Biblioteca Memorial Ian Stevenson, que possui mais de 5 mil livros e documentos relacionados à pesquisa de vidas passadas, há uma vitrine com uma coleção de facas, espadas e maças, armas descritas por crianças que se lembraram de um fim violento em sua vida anterior.

Cada objeto é rotulado com detalhes intrincados, às vezes sangrentos. Uma das exposições contava a história de uma menina birmanesa, Ma Myint Thein, que nasceu com deformidades nos dedos e marcas de nascença nas costas e no pescoço.

“De acordo com os aldeões”, dizia a placa, “o homem cuja vida ele lembrava foi assassinado, seus dedos foram extirpados e sua garganta foi cortada com uma espada”.

Casos

Quando se trata de reivindicações de vidas passadas, a equipe do DOPS trabalha em casos que quase sempre vêm diretamente dos pais.

Entre os traços comuns das crianças que afirmam ter tido uma vida anterior estão a precocidade verbal e os modos que não coincidem com os do resto da família. Acredita-se também que fobias ou aversões inexplicáveis ​​​​foram transferidas de uma existência passada. Em alguns casos, as memórias são extremamente claras: os nomes, profissões e peculiaridades de um grupo diferente de parentes, ou as particularidades das ruas onde moraram, e às vezes até lembram de acontecimentos históricos pouco conhecidos, detalhes que a criança não conseguiria saber.

Ben Radford, vice-editor da Skeptical Inquirer, uma revista dedicada à pesquisa científica, acredita que o pensamento positivo e a ansiedade geral da morte impulsionaram um interesse crescente na reencarnação e encontra falhas na metodologia de pesquisa DOPS, que ele frequentemente disseca em seu blog.

“O fato é que, por mais sincera que a pessoa seja, muitas vezes as memórias recuperadas são falsas”, disse ele.

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