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Por Redação O Sul | 25 de abril de 2019
As ervas que, de acordo com a música do Rappa, “aliviam e acalmam”, pelo visto também rejuvenescem. No último congresso anual da American Academy of Dermatology, realizado na cidade de Washington, no mês passado, vários estudos mostraram o poder antioxidante do canabidiol (o CDB) extraído da Cannabis sativa , nome científico da maconha. Resultado: animados com a descoberta e com a legalização da erva em diversos lugares do mundo — só nos Estados Unidos são dez estados onde está “tudo liberado” —, pesquisadores da indústria cosmética desenvolveram hidratantes, sabonetes e até itens de maquiagem capazes de levar a onda da cannabis muito além do barato.
Segundo os especialistas, o segredo do CDB está em seu alto poder antioxidante, que reúne as vitaminas A, B, D e E, e tem ações anti-inflamatória e antibactericida.
“Os estudos ainda são muito recentes, mas, como antioxidante, a substância pode ajudar no combate aos radicais livres que provocam manchas, linhas finas e rugas”, explica Juliana Mendonça, porta-voz do setor de psicodermatologia da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
Diferentemente do THC, o CDB (que vem sendo estudado por outras áreas da medicina no tratamento de doenças do sistema nervoso central) não tem efeito alucinógeno e se adapta bem nas diversas fórmulas de produtos de beleza.
De olho nesses estudos, marcas estrangeiras de nicho (como as americanas Cannuka, criada por um casal de Ohio, e Herb Essentials, com sede em Nova York) e de grandes conglomerados (Kiehl’s e The Body Shop, ambas do grupo francês L’Oréal, e Origins, da americana Estée Lauder) já estão de olho nos consumidores que buscam soluções de beleza com substâncias naturais no lugar das químicas tradicionais.
“É uma coisa nova, mas tem se falado no CBD como agente antimicrobiano, capaz de inibir a proliferação de bactérias que causam a acne”, diz a dermatologista carioca Juliana Piquet, que acompanha também as discussões sobre o efeito positivo da substância em doenças como psoríase e dermatite atópica.
Por essas e outras, experts como Alexia Inge, do site Cult Beauty, que costuma mapear as tendências de beleza mundo afora, diz que “aCannabis é a última corrida do ouro”. E deve ser mesmo. A consultoria Jefferies publicou, no mês passado, um levantamento que projeta que, na próxima década, a venda de produtos à base de CDB gerará um faturamento em torno de US$ 25 bilhões.
“Substâncias da Cannabis podem, num futuro não muito distante, estar em cosméticos como qualquer outro ingrediente convencional”, diz Irina Barbalova, analista-chefe do setor de beleza e cuidados pessoais da Euromonitor Internacional.
O que se discute, aqui e lá fora, é a real eficácia do componente a longo prazo. Como as pesquisas são consideradas novas, não há uma certeza absoluta dos efeitos do CDB nos cosméticos.
“É inegável que exista um apelo enorme, e o marketing no exterior tem sido agressivo. Mas a maioria dos estudos trata do potencial em doenças dermatológicas e não em estética”, diz Juliana Piquet.
No campus da USP, em Ribeirão Preto, há um centro de pesquisa de canabidiol que se propõe apenas a estudar os efeitos da substância na neuropsiquiatria, principalmente em casos de epilepsia. Dermatologia, por enquanto, não está no escopo.
Apesar do burburinho lá fora e da certeza de que aplicar um óleo de canabidiol no rosto não vai deixar ninguém “doidão”, no Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária proíbe a comercialização e a importação dos produtos. Nem mesmo a inofensiva linha Hemp, da The Body Shop, vendida em diversos países da Europa e nos Estados Unidos, pode entrar. Portanto, antes de trazer aquele “creminho inocente” na mala, pense duas vezes. Agentes sanitários poderão cortar seu barato ainda no aeroporto.