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Facção terrorista Al Shabaab impede aulas no Quênia

Bilan Abdi, 9, era aluna de Violet Muranga, morta em um ataque do Al Shabaab em novembro. (Foto: Will Swanson/The New York Times)

Pôsteres com números, letras e formas geométricas se espalhavam nas paredes da pequena sala de aula na escola particular Mandera Academy. Dezenas de alunos se comprimiam nas carteiras.

Bilan Abdi, 9, se levantou para falar de sua professora, Violet Muranga, arrastada para fora de um ônibus no ano passado, quando viajava para visitar sua família, e morta a tiros. “Aprendemos muito com ela”, disse Bilan baixinho. “Músicas como ‘Brilha, brilha, estrelinha’.”

O grupo extremista islâmico Al Shabaab está provocando sofrimento agudo no Quênia.

Muitas das 28 pessoas assassinadas naquele ônibus eram professores que viajavam para passar o Natal com suas famílias. Suas mortes coincidiram com um ataque a uma mina, na extremidade norte do Quênia, em que dezenas de trabalhadores foram separados segundo sua religião, forçados a se deitar no chão de barriga para baixo e mortos a tiros. Mais para o sul, quase 150 pessoas, em sua maioria estudantes, morreram em abril, quando militantes atacaram uma cidade universitária em Garissa.

O choque, o pavor e o sentimento contínuo de insegurança levaram dezenas de escolas a fecharem suas portas. Mais de mil professores de outras partes do país se recusam a voltar a lecionar em áreas onde temem ataques terroristas, segundo a União Nacional de Professores do Quênia, provocando uma crise educacional nessas regiões.

O secretário de Educação, Jacob Kaimenyi, declarou: “Estou preocupado, sim. Por que as crianças dessas regiões não estão aprendendo? É por causa do conflito e da insegurança.”

Muitos professores qualificados vêm de outras partes do país. “Aconselhamos os professores a não voltarem”, disse Wilson Sossion, secretário-geral da União Nacional de Professores. “Eles estão sujeitos a ataques.”

Na Escola Secundária para Meninos, em Mundera, quase metade dos professores de origem não local se recusaram a voltar. Ibrahim Hassan, o diretor, explicou que a escola conseguiu suprir a falta de professores chamando “alguns dos melhores alunos do ano passado” para ensinar. Mas acrescentou: “Estamos preocupados”.

Manter as escolas abertas já pode ser difícil, mas há um desafio ainda maior: preparar os alunos para o exame nacional que determina sua aptidão para ingressar na universidade.

Apenas no condado de Mandera seriam necessários mais 600 professores, numa região em que as instalações escolares sempre foram insuficientes.

De acordo com autoridades locais, apenas entre 10% e 15% dos estudantes terminam o ensino secundário em condições de ingressar numa faculdade.

“Os alunos podem ter passado quatro anos sem professor de física”, mas mesmo assim precisam fazer exame de física para a faculdade, disse Ismail Barrow, diretor interino de educação do condado de Mandera.

Nyagaha Nicholas, 44, é diretor da Mandera Academy, que perdeu cinco professores no ataque ao ônibus. “Outros professores querem desistir, mas eu não vou embora”, disse. “A gente pode morrer em qualquer lugar.”

Alguns pais estão mandando seus filhos para a capital, a centenas de quilômetros de distância, para continuarem seus estudos. No entanto, esse é um luxo que não é para todos.

“O que estamos dizendo aos habitantes dessas áreas?”, perguntou Kaimenyi. “Que seus filhos não devem estudar? Por isso é tão importante trabalharmos juntos para assegurar que as crianças em todas as partes do país possam ir à escola.”

Suada Farhan, aluna de 16 anos da Mandera Academy, estudava com três dos professores mortos no ataque de ônibus.

Agora, ela disse, o clima de insegurança ameaça outra coisa: “Estão destruindo nosso futuro”. (Folhapress)

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