Quinta-feira, 21 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 14 de setembro de 2021
O Facebook fornece tratamento especial a usuários influentes e os exime de cumprir regras de conduta. A informação é de reportagem publicada pelo Wall Street Journal. Segundo documentos obtidos pelo jornal, a rede social criou um programa secreto denominado “XCheck”, que isenta celebridades, políticos e outras personalidades do cumprimento de algumas – ou, em alguns casos, todas – diretrizes que se aplicam aos demais usuários do Facebook.
No sistema XCheck ou “Cross Check” (verificação cruzada, em tradução livre), alguns usuários são incluídos em uma lista especial que os protege de ações de fiscalização. Outros, por sua vez, têm permissão para postar material que viole as regras do Facebook, aguardando revisões de conteúdo que muitas vezes não acontecem. De acordo com o Wall Street Journal, o programa estaria em vigor desde 2019, e haveria pelo menos 5,8 milhões de nomes integrando a lista secreta em 2020. Vale lembrar que, em medição recente, a plataforma tinha 2,89 bilhões de usuários.
Os perfis privilegiados não eram informados ou marcados como eleitos do programa XCheck, segundo o Wall Street Journal, mas eram selecionados a partir de critérios como “popularidade”, “influência” ou “digno de notícia”. Ainda segundo o jornal, diversos funcionários do Facebook foram destacados para o programa, e estes poderiam incluir e excluir perfis livremente da lista.
Os documentos obtidos pelo veículo revelaram que o programa XCheck permitiu, por exemplo, que o jogador Neymar Jr. postasse fotos íntimas da mulher que o acusou de estupro. O conteúdo, em vez de ter sido removido imediatamente, permaneceu no ar por mais de um dia, contrariando as diretrizes da comunidade do Facebook. A postagem teria sido visualizada 56 milhões de vezes, conforme afirma o Wall Street Journal, até ser excluída.
A investigação do jornal aponta ainda outras celebridades que receberam tratamento especial. Entre elas estão o ex-presidente norteamericano Donald Trump, atualmente banido da rede, e o próprio criador do Facebook, Mark Zuckerberg.
Uma revisão interna das práticas do Facebook, feita em 2019, reconheceu que a lista de permissões “representa vários riscos legais, de conformidade e de legitimidade para a empresa e prejudica nossa comunidade”, e que a prática de favoritismo não é “publicamente defensável”.
“Não estamos realmente fazendo o que dizemos que fazemos publicamente”, informa a análise confidencial, segundo o Wall Street Journal. “Ao contrário do resto da nossa comunidade, essas pessoas podem violar nossos padrões sem quaisquer consequências.”
O que diz o Facebook
Em resposta ao Wall Street Journal, um porta-voz do Facebook disse que as críticas ao uso do XCheck são “justas”, mas explicou que o sistema foi criado para lidar com conteúdos que podem exigir “mais compreensão”.
“Muitos desses documentos internos são informações desatualizadas e foram utilizados para criar uma narrativa que encobre o ponto mais importante: o Facebook identificou problemas com a verificação cruzada e tem trabalhado para resolvê-los. Fizemos investimentos, construímos uma equipe dedicada e estamos redesenhando a verificação cruzada para melhorar a forma como o sistema opera”, afirmou o porta-voz do Facebook.
Após a publicação da reportagem, Andy Stone, gerente de política de comunicações no Facebook, saiu em defesa da rede em uma série de posts no Twitter. Endossando o posicionamento da empresa, ele disse que a verificação cruzada funciona como uma segunda camada de revisão para garantir que as políticas são aplicadas corretamente, e que o programa é uma “tentativa de proteção contra erros”.