Em meio a jornais em crise ou alinhados ao governo e sites independentes que têm pouco alcance, as “fake news” têm território fértil para florescer.
Tudo isso potencializado pela grave crise e a ansiedade da maioria dos venezuelanos que querem Maduro fora, contra os que o apoiam.
Na semana que a Folha passou lá, foram várias: a de que Maduro estaria fugindo para Cuba, Rússia ou Turquia. A de que Guaidó estava preso. A de que os marines norte-americanos já estariam a caminho.
Quem tem WhatsApp difunde essas coisas em numerosos grupos, pró e contra.
Uma das mais estapafúrdias que a Folha ouviu foi a de que Maduro já tinha partido e que sua mulher, Cilia Flores, ficaria em seu lugar. Isso disse um garoto de uns 19 anos: “Maduro é fraco, com essa mulher é que estamos ferrados, ela é superautoritária”.
Na última noite na cidade, fui ao aniversário da avó de uma amiga, dona Hermínia, 89. Toda a família é anti-Maduro e passou o jantar criticando a ditadura.
Até que dona Hermínia disse. “Vocês não sabem nada. O país está assim porque todos os comerciantes são especuladores e estão esperando tudo ficar mais caro e aí ganham mais.” Mas todos os comerciantes são maus?, perguntou uma neta. “Todos, porque estão a mando do Trump”.
Antes que se iniciasse uma batalha familiar, alguém trouxe o bolo para o “parabéns”.
Caçada a jornalistas
É assombroso e irresponsável”, diz o chanceler venezuelano Jorge Arreaza, “que meios estrangeiros entrem no país sem pedir permissão”.
De todas as coisas assombrosas e irresponsáveis que vêm ocorrendo na Venezuela – morte de crianças desnutridas, assassinatos de opositores, filas onde só se distribui benefícios a quem jura lealdade ao governo ou enterros caseiros, sem falar da corrupção –, a única que parece revoltar Arreaza é esta.
Assim foi sua justificativa para a caça a correspondentes estrangeiros ocorrida na última semana, em que 11 foram detidos, vários deles deportados.
Os jornalistas locais estão mais que acostumados com pressões, ameaças e intimidações. Também elas assombrosas. Três dias depois de ter dado entrevista à Folha num café de Caracas, Luisa Amelia Maracara, editora do site Cronica Uno, telefona para a reportagem. “Aqueles caras que estavam armados no café, eu acho que não eram seguranças da irmã do Maduro, porque na vizinhança ninguém os conhece. Creio que estavam nos seguindo.”