As chamadas “fake news” proliferam nas redes sociais. Os seus criadores confiam na falta de juízo e de reflexão crítica das massas que frequentam a internet. E em todos os lugares, e em todos os tempos, sempre está à mão um amplo contingente de pessoas ingênuas, docemente predispostas a acreditar em tudo o que ouvem e leem.
Mas as “fake news” também frequentam – e como frequentam! – os jornalões, as revistonas, as colunas de jornalistas, um pouco porque também não pensam direito, outro tanto porque, mesmo sabendo que a informação é falsa ou exagerada, ela serve aos propósitos de quem a publica.
Um assessor legislativo da Câmara dos Deputados fez – melhor seria dizer cometeu – um cálculo que, na Medida Provisória 795, as companhias petrolíferas teriam recebido uma dinheirama da ordem de 1 trilhão de reais do governo, sob a forma de vantagens fiscais. Era um erro colossal, logo desmentido pela própria Câmara dos Deputados e pelo Ministério da Fazenda.
A bagatela, entretanto, ganhou vida própria e continua circulando como se fosse verdadeira. O desmentido não tem força de afastar o “fake” trilionário. O articulista da Folha Vladimir Safatle – que ninguém pode acusar de ter cuidado com o que escreve – foi mais longe: disse que o governo concedeu “isenção fiscal” de 1 trilhão de reais em favor das petroleiras. Isso na mesma edição que o jornal publicou o desmentido.
Posso estar enganado, mas o “fake” do 1 trilhão de reais, ainda será usado e abusado por muito tempo pelos sites petistas, e quejandos, como prova do favorecimento das companhias de petróleo que irão atuar na exploração do pré-sal.
Outros “fakes” são um pouco mais sutis. O badalado jornalista Elio Gaspari é um dos campeões desse, digamos, estilo. Ele não ataca o ponto central de uma informação. As palavras dançam bem alinhadas na periferia da matéria, mas não entram no ponto nevrálgico.
Semana passada, na sua coluna, ele faz uma longa nota para abordar um dos fiascos mais espetaculares do governo Dilma, o FIES, o programa de financiamento estudantil que caminha para um rombo monumental nos cofres públicos, da ordem dos 500 bilhões de reais.
E o que fez Gaspari? Ele preferiu alvejar as universidades privadas que se beneficiaram com o programa, porque foram “com muita sede ao pote”. E por que não iriam, se o programa estava ali, disponível? O medalhão do jornalismo dá voltas e voltas no assunto, e praticamente isenta de culpa o governo Dilma.
Ora, esse é um caso que só tem um culpado: o governo. O FIES era um programa concessivo, irresponsável demagógico e eleitoreiro. Ninguém pediu a Dilma que criasse um programa naqueles termos. As universidades privadas aproveitaram o mimo que lhes foi entregue de mão beijada e mandaram ver.
Os prejuízos que se acumulam e acumularão ainda mais, serão espetados – como em tantas vezes – na conta da viúva, isto é, por conta do nosso rico dinheirinho.
Ao livrar a cara de Dilma pelo desastre, apontando o dedo para as universidades privadas que se beneficiaram do programa, Gaspari produziu um “fake” e tanto. Sofisticado, mas “fake”.