Sábado, 16 de novembro de 2024
Por Tito Guarniere | 1 de julho de 2023
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Os militantes e simpatizantes petistas estão eufóricos com a performance de Lula em Paris. “Fala de estadista”! “Tem a dimensão de Mandela”! – faltou apenas a Marilena Chauí dizer que quando Lula fala, o mundo se ilumina.
Nem tanto, digo eu. Olhando de perto é mais do mesmo, o velho discurso de sempre, que acaba encantando as plateias do mundo, principalmente em centros como Paris. Essa gente adora ouvir sermão sobre as suas culpas, pela riqueza em que vivem e ostentam, comparada com as misérias do mundo. Lula oferece uma espécie de penitência, que lhes alivia o remorso.
Trata-se de uma explicação simplista do mundo: os ricos são ricos porque exploram os pobres; se algumas nações deram mais certo do que outras foi porque espoliaram as riquezas dos povos mais vulneráveis.
Que existem disparidades não há dúvidas. É diagnóstico a olho nu. A questão: como resolver as diferenças abismais de riqueza e renda entre os mais ricos e os mais pobres?
O discurso de que os mais ricos devem abrir mão de parte dos seus bens e riquezas para minorar as carências da vida dos pobres esbarra na realidade: quem está disposto a abrir mão? Perguntem aos professores da universidade (de onde vêm a esmagadora maioria das críticas à desigualdade) se eles abrem mão de uma parte dos seus bons salários, vantagens e benefícios.
A resposta será a mesma dos mais empedernidos capitalistas, donos do dinheiro, bolsonaristas de raiz. Lula tem coragem de mexer nesse vespeiro, de verdade, fora do discurso?
É cômodo, recebe aplausos calorosos denunciar as maldades do mundo ao pé da Torre Eiffel, na cidade mais charmosa do mundo e no fim da noite de jantares com as delícias da cozinha francesa e do vinho nacional retornar ao hotel de cinco estrelas para o repouso do “guerreiro”. Mas por aqui, no governo, tudo o que vale é “incluir os pobres no orçamento”? A que valor, presidente? A um valor da ordem dos R$ 600 mensais do Bolsa Família?
Lula está, ele mesmo, situado no topo da pirâmide, no 1% da população mais rica do mundo. Ou alguém pensa que nessa categoria de privilegiados só estão milionários, bilionários, donos de jatinho, helicóptero, três ou quatro mansões espalhadas pelo mundo para o seu bem viver? Lula, quando ataca os ricos, está dando tiro no pé. Há uma certa hipocrisia nisso.
No discurso acusou os países da Revolução Industrial de ter poluído o mundo e, portanto, eles que paguem a dívida histórica pelo que causaram ao planeta. O raciocínio parece redondo. Mas ignora que no mundo de antes da revolução Industrial, a expectativa média de vida era de 40 anos!
A verdade é que a Revolução Industrial em 200 anos produziu um crescimento espantoso na riqueza e uma incrível melhoria na qualidade de vida de milhões de pessoas, como nunca antes na história humana.
Como pergunta Oded Galor, em seu excelente “A Jornada da Humanidade”: “Se as fábricas que poluíam o ar e os rios foram a cerne da Revolução Industrial, porque então a expectativa de vida aumentou e a mortalidade infantil despencou”?
Sem a Revolução Industrial, Lula (e você e eu) provavelmente nem existiríamos.
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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