Terça-feira, 29 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 12 de novembro de 2017
Depois de o presidente Michel Temer admitir que a proposta de reforma da Previdência não deve ser aprovada “em todo o conjunto”, e afirmar que, se não der para aprová-la, “paciência”, o tema voltou a ser discutido intensamente no meio político em Brasília.
Com as vitórias do governo nas votações que barraram o andamento das denúncias contra Temer, as atenções passaram a se voltar para assuntos prioritários, como a reforma. Apesar do recado de que poderia jogar a toalha na aprovação das mudanças previdenciárias, Temer e aliados voltaram a negociar um texto que reúna pontos considerados fundamentais pelo governo para não inviabilizar a Previdência no futuro.
Bolsa de valores
Na última semana, quando a reforma da Previdência voltou a ser o principal assunto do noticiário de Brasília, declarações de políticos sobre o tema influenciaram diretamente o sobe e desce na Bolsa de Valores de São Paulo. O Ibovespa, principal índice, teve fortes oscilações à medida que parlamentares e autoridades do governo davam a entender que a reforma ou poderia ser aprovada, ou ficava mais distante.
Tudo começou com uma declaração do presidente Michel Temer na segunda-feira (06). Defensor da proposta, ele disse que, diante do cenário político, a reforma poderia não ser aprovada “em todo o conjunto”. Na hora que o presidente soltou essa frase, a Bovespa já tinha encerrado o dia. Mas no pregão seguinte, registrou a maior queda desde maio.
Diante do estrago, ministros, Temer e líderes da base no Congresso correram para manifestar publicamente que o governo continuava empenhado em aprovar a reforma e faria de tudo para que ela passasse no Congresso, mesmo num formato mais enxuto, o mais rápido possível.
Na quarta-feira (07), o Ibovespa teve uma alta que recuperou as perdas do dia anterior. A mesma lógica vigorou ao longo dos demais dias, com a Bolsa reagindo instantaneamente a cada suspiro em Brasília sobre Previdência.
Por que a Bolsa reage às notícias?
De acordo com o economista André Perfeito, um dos motivos para as notícias em torno da reforma da Previdência causarem impacto na Bolsa é que o mercado tem a expectativa de que o projeto contribua com a queda de juros no longo prazo e torne mais atraente o investimento em empresas. “Juros menores tornam mais atrativo investir em empresas. Porque a expectativa é que com juros menores a economia vai crescer e as empresas vão ganhar mais. Aí entra mais dinheiro na Bolsa”, afirmou.
Ele também disse que a reforma não só interfere positivamente nas contas públicas, mas é importante até para a “capacidade do governo de continuar sendo governo”.
O Brasil não registra superávit primário desde 2013. Isso quer dizer que gasta mais do que arrecada desde 2014 e as contas públicas estão no vermelho. Para este ano e o próximo, a meta fiscal é de déficit de R$ 159 bilhões. A reforma da Previdência é uma das medidas de ajuste fiscal do governo, que visa a colocar as contas públicas em dia no médio e longo prazo.
Se a reforma não sair, aumenta o risco de o País ter sua nota de crédito rebaixada pelas agências de classificação de risco, que estão de olho no resultado fiscal do país. Quanto pior a nota de um país, mais caro é para as empresas conseguirem crédito. E isso influencia negativamente o valor de suas ações.
Na última sexta-feira (10), a agência Fitch Rating reafirmou a nota de crédito do Brasil dois níveis abaixo do grau de investimento (selo de bom pagador) e com viés de queda. E, entre os motivos citados pela agência, estão justamente as incertezas sobre a aprovação da reforma da Previdência pelo Congresso e o alto déficit fiscal do País.
“A perspectiva negativa reflete contínuas incertezas quanto à força e sustentabilidade da recuperação da economia brasileira, as expectativas de estabilização da dívida no médio prazo dado o alto déficit fiscal e ao processo da agenda de reformas no Congresso, especialmente a da Previdência”, disse a agência.