Segunda-feira, 18 de novembro de 2024
Por Tito Guarniere | 29 de junho de 2024
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
As falas de Lula estão ficando cada vez mais incautas e previsíveis. Quando ele começa ou termina a frase com as expressões “não é possível” e “neste País”, prepare-se: se seguirá uma impropriedade, um disparate, uma exorbitância. É quando ele denuncia, em estado de ira santa, uma situação injusta, uma ação ou omissão injustificável, uma maldade de (outros) governantes, do mercado, das elites.
Seriam falas perfeitas na oposição. Mas Lula passa ao largo, olimpicamente, de que ele e sua corrente política já governaram o Brasil por 15 anos, mais do que todos os seus adversários políticos juntos desde 1990. FHC, Temer, Bolsonaro – de todos eles Lula recebeu uma herança maldita, um País destruído que cabe a ele – e unicamente a ele – reconstruir.
E aqueles dois anos calamitosos de Dilma, dois anos consecutivos com queda de 7% do PIB, de que resultou o impeachment? Foi golpe parlamentar, conluio das elites, impedindo com suas manobras solertes que os pobres participassem do orçamento público e melhorassem de vida.
Lula descobriu recentemente – e não gostou – que somente no ano corrente de 2024, se acumula um rombo de R$ – 524 bilhões em benefícios fiscais. São fartos recursos subtraídos dos cofres públicos em favor de empresas e setores privilegiados, sob a forma de isenções e reduções de impostos ou créditos subsidiados.
E quem abriu mão de somas tão vultosas? Quem concedeu benefícios tão seletivos e rombudos? Quem não calculou que, em algum tempo, eles fariam falta para que o estado brasileiro cumprisse as suas vastas atribuições? A resposta só surpreende aos desatentos em geral: foram os governos de Lula I e II e de Dilma, basicamente.
Ou seja, Lula reclama dos seus próprios malfeitos ou de Dilma. Ao que aparenta, ele só notou agora o efeito desastroso dos “benefícios”. O que foi a benesse ontem, hoje é o pesadelo das contas públicas.
O PT, as esquerdas, o presidente, costumam culpar os liberais e neoliberais das desgraças que nos incomodam. São essas pessoas sem coração que enxugam o dinheiro das receitas públicas e o direcionam para as elites, os barões da economia, os rentistas. Porém os teóricos liberais de todas as vertentes são por definição contrários à concessão de incentivos: eles desequilibram o jogo, favorecem os capitalistas de compadrio, distorcem o sentido e as vantagens da concorrência limpa.
Paulo Guedes, por exemplo, esse nefando inimigo do País, era contra subsídios e incentivos. Chegou a fazer algum esforço para extingui-los, mas acabou cedendo aos imperativos da política, não teve força para eliminar os “direitos adquiridos” dos setores beneficiados.
O fato é que a situação ficou insustentável. Neste ano e meio de Lula, a cada demanda o governo respondeu através de novas concessões e gastos. E nem estamos falando das necessidades inadiáveis e imperiosas, como aquelas decorrentes da tragédia do Sul. Haddad foi levando na conversa mole a busca de novos recursos, mas o Congresso parece que cansou.
Diante do quadro, Lula diz que vai cortar os gastos. Melhor o que isso só se for verdade.
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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