Sexta-feira, 25 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 30 de março de 2023
Ao longo das últimas duas semanas, enquanto reguladores americanos se esforçavam para encontrar comprador para o Silicon Valley Bank (SVB), as empresas que dependiam do “banco das startups” para linhas de crédito tentaram garantir nova fonte. Os investidores, receosos com o risco, têm optado cada vez mais por ficar de fora dos cheques. Algumas empresas jovens estão fazendo tudo o que podem para evitar a angariação de novos fundos e assim não precisar encarar avaliações menores. O resultado é que um ambiente hostil para as startups de tecnologia ficou rapidamente ainda pior.
“As pessoas estão percebendo que provavelmente as coisas não vão melhorar”, disse Mathias Schilling, investidor da empresa de capital de risco Headline. “Foi um grande choque para o sistema.”
Segundo ele, a corrida aos bancos que levou à falência do SVB, divulgada em 17 de março, comprovou o quanto o medo já estava presente no mercado: os investidores não teriam desencadeado tal pânico se já não estivessem no limite.
A falência não foi causada diretamente pela retração econômica no setor de tecnologia, e as startups com dinheiro na instituição não vão perder seus depósitos, pois o Departamento do Tesouro e o Federal Reserve acabaram assegurando todos os depósitos do SVB. Mas a implosão da instituição aconteceu após uma queda de 61% no financiamento de risco nos últimos três meses de 2022 em relação ao ano anterior, de acordo com o PitchBook, que acompanha o mercado das startups. Kyle Stanford, analista do PitchBook, disse esperar que a falência do SVB pudesse “precipitar” a desaceleração do mercado que já estava acontecendo.
Em uma pesquisa com 870 fundadores realizada este mês pela empresa de capital de risco NFX, 59% disseram que a falência do SVB tornaria um mercado de captação de recursos já difícil ainda mais desafiador e 22% afirmaram estar preocupados com a possibilidade de não conseguir levantar fundos este ano.
A Techstars, empresa de investimento para startups em estágios iniciais que já apoiou 3,5 mil empresas, aconselhou as companhias a conversar com seus acionistas e conseguir mais capital antes de lançar ofertas a novos investidores, disse a CEO Maëlle Gavet. A Techstars também tentou diminuir as expectativas dos empresários quanto ao valor de suas empresas. Maëlle disse esperar que muitas conversas sobre a venda ou o fechamento de portas de startups aconteçam em breve. “Toda essa coisa do SVB criou uma sensação de perigo maior”, afirmou.
Bijan Salehizadeh, investidor com participações em uma dúzia de fundos de capital de risco, disse que de um quarto a um terço das empresas apoiadas por seus fundos ficarão sem dinheiro nos próximos seis meses. Ele chamou este de “o pior momento na memória recente para arrecadar novos fundos de risco” e disse ter visto muitos investidores “de braços cruzados”, apreensivos.
Se as startups não puderem levantar fundos de risco, restarão poucas tábuas de salvação. A volatilidade do mercado de ações tornou as ofertas públicas iniciais de ações (IPO) praticamente impossíveis, enquanto as gigantes da tecnologia estão sob escrutínio antitruste e enfrentam suas próprias pressões financeiras.
O SVB oferecia a muitas startups uma forma de crédito que outros bancos consideravam arriscada demais, pois as empresas jovens costumam não ser lucrativas. O crédito, normalmente assegurado pelo capital de risco de uma startup, ajudava as empresas a fazer o dinheiro render até a próxima rodada de financiamento. “É outra fonte de capital que está recuando”, disse Zane Carmean, analista do PitchBook, em uma conferência online recente para investidores intitulada “A música parou?”.