Sexta-feira, 07 de fevereiro de 2025
Por Redação O Sul | 16 de junho de 2019
Inspirados por relatos de um segundo paciente aparentemente livre da infecção pelo HIV, o vírus que provoca a Aids, os cientistas estão perseguindo dezenas de maneiras de curar a doença. Mas agora, os pesquisadores devem contar com um obstáculo de longa data: a falta de mulheres em ensaios clínicos de potenciais tratamentos, curas e vacinas para o HIV.
As mulheres compõem pouco mais da metade das 35 milhões de pessoas que vivem com HIV em todo o mundo, e o vírus é a principal causa de morte entre aquelas em idade reprodutiva. Na África, em partes da América do Sul e até mesmo no sul dos Estados Unidos, novas infecções de mulheres jovens dão sustento à epidemia.
Mulheres e homens respondem diferentemente à infecção por HIV, mas os ensaios clínicos continuam a depender fortemente da participação de homens gays. Ensaios de possíveis curas se saem particularmente mal nesse aspecto.
Uma análise de 2016 feita pela AMFAR (Fundação para a Pesquisa da Aids) constatou que as mulheres representavam uma média de 11% dos ensaios de cura. Ensaios de medicamentos antirretrovirais se saíram um pouco melhor: 19% dos participantes eram mulheres.
Os estudos de vacinas foram os mais próximos da participação equitativa, com 38%. “Se vamos descobrir uma cura, é importante que encontremos uma que realmente funcione para todos”, disse Rowena Johnston, diretora de pesquisa da AMFAR.
Há diferenças bem conhecidas no sistema imunológico de homens e mulheres. A vacina contra a gripe produz uma resposta imune muito mais forte em mulheres, por exemplo. A resposta à infecção por HIV parece também diferir. O sistema imunológico feminino inicialmente responde vigorosamente, mantendo um controle estreito sobre o vírus por cinco a sete anos.
Mas, em longo prazo, esse estado de alerta elevado tem um custo. As mulheres progridem mais rápido para a Aids do que os homens infectados, e estão mais propensas a ter ataques cardíacos e derrames. “Há todo tipo de diferença entre homens e mulheres, provavelmente em parte graças aos efeitos hormonais”, disse Monica Gandhi, professora de medicina da Universidade da Califórnia, em São Francisco.
Por exemplo, o hormônio feminino estrogênio parece deixar o HIV em um estado dormente. Isso pode parecer uma coisa boa, mas, para o sistema imunológico ou para as drogas, é mais difícil eliminar o vírus adormecido.
Algumas diferenças podem ser evidentes mesmo antes da puberdade: em um estudo, todas menos uma das 11 crianças que eram “controladores de elite” – as pessoas que parecem suprimir o HIV a níveis indetectáveis sem drogas – eram meninas. As mulheres também respondem diferentemente a alguns tratamentos medicamentosos.