A família de Jonatan Moisés Diniz – o brasileiro que diz ter sido preso propositalmente para chamar a atenção sobre a crise na Venezuela – divulgou um comunicado nessa sexta-feira na qual afirma desconhecer completamente a “atitude reprovável” dele.
Detido na Venezuela no fim de dezembro, ele mobilizou esforços do Itamaraty pela sua libertação para depois dizer que planejou ser detido pelo chavismo.
A motivação de Jonatan foi apresentada em um vídeo de pouco mais de cinco minutos exibido durante apresentação de sua ONG Time to Change the Earth (Tempo de mudar a Terra), na tarde de quinta-feira, em Balneário Camboriú (SC).
“Jamais imaginamos que sua prisão fosse resultado de um ato premeditado. Ficamos estarrecidos ao tomar conhecimento das declarações contidas no vídeo”, diz a família no texto.
Os parentes também se mostraram envergonhados pela força-tarefa criada para libertar o brasileiro. Jonatan passou 11 dias na prisão. “Após recebida a notícia de sua prisão, a família ficou sem chão. Desde 26 de dezembro de 2017 não houve mais contato e as mensagens enviadas apareciam como não tendo sido recebidas. Também não havia qualquer notícia sobre seu real paradeiro. Só restava à família conseguir o apoio possível em busca de notícias”, acrescenta o texto.
“Por isso, além de agradecer o apoio de todos para tirá-lo da prisão, pedimos sinceras desculpas.” Por fim, eles declaram que não se envolverão mais no caso e não responderão a outros questionamentos da imprensa. “Tudo que tínhamos que dizer já foi dito, e deste momento em diante só quem responde pelo Jonatan é ele próprio. Obrigado, de coração, a todos que nos ajudaram a superar este episódio. Esperamos que Jonatan possa entender e encontrar o melhor caminho para suas ações sociais.
Repercussão
Em vídeo gravado na Califórnia, nos Estados Unidos, o brasileiro, de 31 anos, criticou o foco da imprensa sobre os maus-tratos que, segundo ele mesmo, sofreu na prisão. Na sua página do Facebook, o catarinense havia relatado ter sido forçado a ficar nu em frente aos outros presos e não ter recebido comida durante vários dias.
“Se eu fui para lá e fui, é porque incitei ser preso. Eu planejei ir para a Venezuela, chamar atenção e ser preso. Admito. Com o dinheiro que eu tenho, não daria para salvar nem cem crianças. Num ato sem medo, fui, falei e enfrentei de cara pessoas poderosas, ligadas ao presidente e às Forças Armadas. Fui para a cadeia justamente porque eu queria ir para a cadeia para acontecer a repercussão, para mostrar que tem criança morrendo de fome. Indo para a cadeia, aconteceu exatamente o meu plano”, reconheceu o brasileiro.
Jonatan não detalha o que fez para incitar a própria prisão, ocorrida, segundo ele, quando estava com amigos na praia. Nos últimos dias de dezembro, o dirigente chavista Diosdado Cabello — figura forte do chavismo — anunciou que as autoridades o haviam prendido e acusou o brasileiro de liderar a organização Time to Change, que seria fachada para ações contra o governo do presidente Nicolás Maduro.
O número 2 do chavismo chegou a sugerir que a CIA, agência secreta dos EUA, estaria por trás da atuação dele no país sul-americano. O objetivo, segundo Jonatan, era divulgar o drama das crianças e financiar ajuda para a sua organização. Quanto mais repercussão, mais dinheiro a ONG da qual participa conseguiria arrecadar e, assim, compraria mais comida para os pequenos famintos. Em apelo aos seguidores para espalhar a “vibração do bem”, o brasileiro reforçou que não sofreu agressões físicas ou ameaças de morte na cadeia, afirmando que se arriscaria de novo em nome da causa.
“Foram onze dias de apreensão, de orações. Só que a minha vida não é nada. Se eu puder, com tudo isso que eu fiz, salvar uma criança, já valeu tudo a pena. Se eu tiver que arriscar minha vida mais cem vezes, vou arriscar (…) Se algum governo, se alguma polícia quiser me prender por isso, pode me prender. Estou aqui à disposição. Se é para fazer o bem, eu topo arriscar a minha vida”, frisou.