Familiares e amigos de Evaldo Rosa dos Santos, 47, que morreu baleado por militares no bairro de Guadalupe, na zona oeste do Rio de Janeiro, negaram que ele estivesse armado e contestaram a versão dada pelo Exército. Os militares disseram que foram atacados a tiros e revidaram atirando contra o automóvel no qual Santos estava.
Um amigo da vítima, porém, afirmou Santos trabalhava como segurança privado e que ele estava apenas passando pelo local com sua mulher, o filho de sete anos, o sogro e uma amiga. O sogro e um pedestre também foram baleados e socorridos para um hospital. A mulher de Santos ficou em choque e sob efeito de medicamentos.
Militares citam assalto; amigo nega
Santos morreu por volta das 14h40 na Estrada do Camboatá, próximo ao Piscinão de Deodoro. De acordo com o CML (Comando Militar do Leste), o tiroteio aconteceu depois que militares se depararam com um assalto na região. Em seguida, foram alvo de tiros que teriam partido do carro no qual Santos estava e revidaram.
Amigo do segurança, Alexsander Conceição, 47, rechaça a versão dada pelo Exército. Ele afirma que a família estava a caminho de um hospital para visitar uma amiga e depois levaria Santos para o trabalho.
“Não tinha assalto. Eles estavam indo para o hospital quando os militares atiraram neles. Tanto é assim que não encontraram nenhuma arma com eles. Os moradores da região dizem que os militares confundiram o carro porque estava acontecendo tiroteio na área antes disso”, afirmou.
Imagens que circulam nas redes sociais mostram moradores revoltados com a ação dos militares.
Ataque a militares mais cedo
Domingo pela manhã, militares informaram que foram atacados a tiros por bandidos na comunidade do Muquiço, perto do local onde Santos foi morto. Mas, segundo o Exército, o caso envolvendo o segurança não tem nenhuma relação com esse ataque. O amigo de Santos afirma que a família acionou a Polícia Civil para fazer perícia no local para tentar evitar que apenas a Polícia do Exército fique responsável por investigar o caso. “O que aconteceu foi um absurdo. As pessoas que moram na região fizeram vídeos que mostram que não teve troca de tiros. Eles [militares] continuaram atirando e atirando”, disse.
Viúva diz que queria ter morrido ao lado do marido
A família do músico Evaldo dos Santos Rosa, de 51 anos, foi nesta segunda (8), no final da manhã, ao IML (Instituto Médico-Legal), no centro do Rio de Janeiro, para liberar o corpo. Ele foi morto em uma operação do Exército, em Guadalupe, na zona oeste da cidade, na qual o carro em que estava foi atingido por mais de 80 tiros de fuzil.
Em estado de choque, a técnica em enfermagem Luciana dos Santos Nogueira, viúva de Evaldo, disse que a família passava pelo local onde houve a operação com frequência e que sentiu-se segura ao observar a presença do Exército.
“Por que o quartel fez isso? Eu disse, amor, calma, é o quartel. Ele só tinha levado um tiro, os vizinhos começaram a socorrer. Eu ia voltar, mas eles continuaram atirando, vieram com arma em punho. Eu coloquei a mão na cabeça e disse: ‘Moço, socorre meu esposo’. Eles não fizeram nada. Ficaram de deboche. Tem um moreno que ficou de deboche e rindo.”
Aos prantos, a viúva disse que preferia ter morrido ao lado do marido, com quem era casada há 27 anos. “Eles me deixaram e mandaram eu correr. Eu tinha que ter ficado para morrer com ele, eu e meu filho”, disse. “Ele [o marido] era meu melhor amigo. Meu filho estava no carro, eu dei calmante para ele, ele viu tudo”, afirmou a técnica de enfermagem, que disse ao filho que pai estava hospitalizado.
Luciana Nogueira informou que Evaldo era músico e trabalhou como vigilante, mas perdeu o emprego há dois anos. Débora dos Santos Araújo, irmã da técnica, disse que o filho do casal, de 7 anos, ainda não foi informado da morte do pai.
“A gente ainda não falou que ele morreu. O menino fica perguntando quando o pai vai sair do hospital. Ele está na casa do avô, do meu padrasto. Era filho único, tinha muito amor pelo pai”, ressaltou Débora Araújo.
Segundo Débora, houve uma tentativa de militares de fazer a perícia no local. “Tem um vídeo mostrando que queriam colocar alguma coisa embaixo do meu cunhado”, disse. “Nós exigimos que fosse a polícia. Isso foi [por volta das] duas horas, a polícia chegou às seis e pouco. Nós não deixamos eles fazerem porque eles podiam tentar fraudar.”