O prejuízo do agronegócio com as enchentes e inundações do último mês no Rio Grande do Sul é estimado em R$ 3 bilhões pela Federação da Agricultura do RS. Segundo a entidade, o volume se refere apenas à produção de grãos afetada e de animais mortos – não considera as perdas em infraestrutura, maquinários e propriedades.
Para chegar ao montante de R$ 3 bi, a Farsul considerou um levantamento feito pelo movimento S.O.S Agro RS, que ouviu 550 produtores rurais do estado. Em média, o prejuízo de cada produtor que respondeu ao questionário é de R$ 1,4 milhão. A entidade, então, cruzou esses valores com os dados de áreas alagadas no Rio Grande do Sul.
“Esses valores são apenas das áreas alagadas. Mas essa perda ainda está acontecendo. Ainda tem soja para colher”, disse o economista-chefe da Farsul, Antônio da Luz, em coletiva de imprensa.
Os participantes da pesquisa apontaram a morte de 23 mil animais e perdas em 33.649 hectares de lavouras, sendo a soja a maior parte dessa área (15.470 ha). Em volume, o prejuízo chega a 1 milhão de toneladas de grãos, segundo a Farsul.
“É uma pequena amostra de como estamos nos sentindo. Estamos sem amparo, sem saber o que fazer, se vale a pena continuar. O que a gente está colhendo, está botando fora”, disse Graziele Camargo, uma das líderes do movimento S.O.S Agro RS e responsável pelo levantamento.
Além das perdas diretas com as enchentes, os produtores rurais ouvidos no levantamento têm dívidas de custeio com vencimento neste ano. A média por produtor é de R$ 415 mil.
O principal pedido de apoio ao setor produtivo do Rio Grande do Sul é uma linha de crédito com 15 anos para pagamento, sendo dois de carência, e com taxas de 3% ao ano. “Para que os produtores possam sanar os pagamentos que vencem este ano, os compromissos com cooperativas, revenda de insumos”, destacou o economista Antônio da Luz.
A demanda está com o Ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, há alguns dias, quando a Farsul e outras entidades do agro gaúcho tentaram convencer o Governo Federal a voltar atrás na decisão de importar arroz – o que não aconteceu e o leilão foi marcado para 6 de junho.
“O Estado precisa de medidas excepcionais. Precisa bloquear as dívidas dos produtores para eles terem capacidade de pagamento, ou não conseguirão acessar novos créditos”, completou Gedeão.
Frustração
Ao contrário do que o agronegócio gaúcho esperava, o ministro da Agricultura não anunciou novas medidas de apoio nem a criação da esperada linha de crédito durante a visita ao Rio Grande do Sul nessa terça. Carlos Fávaro reforçou a criação de fundos garantidores para acesso ao crédito rural. Os fundos foram anunciados no dia 9 de maio, junto com outras ações.
“Essa é a principal medida, porque a liquidez do mercado se extingue diante dessas tragédias”, disse o ministro a jornalistas. Com o fundo de aval, o Tesouro Nacional passa a ser o avalista para o produtor rural acessar o crédito.
Fávaro afirmou que até agosto, o governo deve estruturar “medidas definitivas com relação aos débitos dos produtores”, lembrando que o pagamento das dívidas já foram suspensos até o dia 14 de agosto.
Contra especulação
Questionado sobre a decisão do Governo Federal em importar arroz, mesmo diante da garantia do setor de que não deve faltar o cereal para consumo dos brasileiros, o ministro Carlos Fávaro disse que é preciso olhar o Brasil como um todo e repetiu que a medida é para evitar a especulação.
“É impossível conviver com a especulação. Se alguém tem uma justificativa óbvia de porque um pacote de arroz aumenta 20%, 30% em 30 dias e qual solução para isso?”, refletiu Fávaro, ao dizer que o poder público está atuando para combater o movimento.