Sexta-feira, 27 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 18 de agosto de 2024
O Departamento Federal de Investigação (FBI) dos Estados Unidos está investigando a tentativa de hackers estrangeiros de interferir na campanha para presidente.
De repente, os repórteres receberam um e-mail de alguém chamado Robert com um dossiê de 271 páginas detalhando as fraquezas do candidato a vice de Donald Trump, J.D. Vance.
Os jornalistas conseguiram confirmar que o documento era real e tinha sido preparado em fevereiro pelo próprio Partido Republicano na hora de escolher o segundo nome da chapa. Só que os repórteres foram tentar descobrir quem era esse Robert que tinha mandado os e-mails. Mas ele se negou a falar por telefone e só respondeu uma mensagem dizendo:
“Não me pergunte como eu consegui, porque, se eu disser, vai me comprometer e você não vai poder publicar”.
Só isso foi suficiente para acender um sinal amarelo. Logo depois, a Microsoft publicou um relatório relatando que hackers iranianos estavam tentando acessar o sistema de políticos importantes. O FBI, a Polícia Federal americana, abraçou o caso e abriu uma investigação.
Na última semana o Google confirmou que, em maio, um hacker ligado à Guarda Revolucionária Iraniana tentou invadir mais de uma vez o e-mail pessoal tanto de Donald Trump quanto do presidente americano Joe Biden, e agora tentou acessar o da nova candidata democrata, Kamala Harris.
As campanhas dos partidos Republicano e Democrata usam serviços da Microsoft e do Google.
Postura da imprensa
Os jornais “The New York Times” e “Washington Post”, e o site “Politico” – que receberam o e-mail do tal do Robert – resolveram não publicar o documento, mas apenas revelar o fato de que estavam recebendo material secreto de fontes duvidosas.
O editor executivo do “Washington Post”, Matt Murray, declarou que o episódio revela que a imprensa não vai mais morder a isca de qualquer vazamento, marcar como exclusivo e publicar apenas por publicar. Porque, em 2016, aconteceu algo muito parecido. Hackers russos conseguiram acesso ao e-mail pessoal da então candidata do Partido Democrata à Presidência, Hillary Clinton.
Os e-mails dela foram publicados no site WikiLeaks, de Julian Assange. Os jornais americanos pegaram esse material e fizeram uma série de reportagens que foram prejudiciais à imagem de Hillary antes da eleição. Principalmente pelo fato de que ela usou seu e-mail pessoal, e não o do Departamento de Estado, para discutir questões importantes de política externa americana.
De acordo com a professora de Direito e Ética de Mídia da Universidade de Minnesota, Jane Kirtley, essas reportagens ajudaram Donald Trump a se eleger. Segundo ela, a imprensa foi manipulada por interesses externos. Kirtley disse ao Jornal Nacional que os jornalistas têm que primeiro checar a veracidade dos fatos. Mas, depois, também entender quem é a pessoa que está tentando divulgar a informação e entender quem seriam as pessoas afetadas depois pela notícia. Publicá-las se forem de interesse público, e não para afetar um partido ou outro. Ela lembra que os países envolvidos nesses ataques cibernéticos não permitem imprensa e internet livres em seus territórios.
Não publicar documentos como o e-mail do tal do Robert seria uma forma de não deixar que países onde a internet não é nem liberada consigam influenciar, para um lado ou para o outro, ou no mínimo causar caos e polarização em um país em que a internet e a imprensa são livres – um pilar da democracia.