O senador Jacques Wagner (PT-BA), líder do governo Lula no Senado, relatou na terça-feira (20), que achou indevida a comparação feita pelo presidente no último domingo entre a morte de palestinos na Faixa de Gaza e o extermínio de judeus da Alemanha nazista. “Não se traz à baila o episódio do Holocausto para nenhuma comparação, porque fere sentimentos, inclusive meus, de famílias perdidos naquele episódio”, relatou o senador, que tem ascendentes judeus, no plenário da Casa.
O líder do governo aludia a uma declaração do presidente brasileiro feita em entrevista coletiva no último domingo (18), em Abis Abeba, capital da Etiópia. “O que está acontecendo em Gaza não aconteceu em nenhum outro momento histórico, só quando Hitler resolveu matar os judeus”, disse Lula, que respondia a uma pergunta sobre o aumento do montante destinado pelo Brasil à Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos.
Wagner é ex-governador da Bahia e ex-ministro de Estado. Além de já ter ocupado postos estratégicos nas gestões petistas, como a secretaria de Relações Institucionais e a chefia da Casa Civil, é amigo pessoal de Lula. Ele afirmou que, em visita ao presidente, “teve naturalidade” em dizer que concordava com o repúdio à incursão de Israel em Gaza, mas não compactuava com o paralelo traçado em seguida.
Crise
As autoridades israelenses se indignaram com a declaração, deflagrando uma crise diplomática entre Brasil e Israel. Lula foi declarado como “persona non grata” em território israelense até que se retrate pelo teor do comentário, algo que interlocutores do governo veem como improvável. “Existe zero possibilidade de o presidente Lula pedir desculpas. Ele não fez nada de errado. Só citou fatos históricos”, afirmou ao Estadão Celso Amorim, ex-chanceler do País e atual assessor de assuntos internacionais de Lula.
A nível nacional, a declaração levou à articulação de um pedido de impeachment que passou de 100 assinaturas. A proponente Carla Zambelli (PL-SP) argumenta que, com a fala, Lula expôs o País a “perigo de guerra” e cometeu “hostilidade contra nação estrangeira”, mas especialistas em Direito Constitucional ouvidos pelo Estadão não veem na declaração do petista um crime de responsabilidade que pudesse ser penalizado com impeachment.