Ícone do site Jornal O Sul

Férias & cia

(Foto: Reprodução)

Passou o Natal. O réveillon se foi. Agora é vez de sombra e água fresca. Xô, escola! Xô, trabalho! Xô, seriedade! As férias pedem passagem. Com elas, uma exigência. A palavra tem mania de plural. O singular não tem vez.
Artigo, adjetivo, pronomes e verbos a ela relacionados vão atrás. Concordam com a boa-vida em gênero e número: Minhas férias escolares estão mais curtas a cada ano. Vão longe as férias que passei em Santos. Felizes férias, João!

Time plural
Outros invejaram a excentricidade da palavra férias. Batem pé e exigem o plural. É o caso de anais, antolhos, arredores, cãs, condolências, exéquias, fezes, núpcias, óculos, olheiras, pêsames, víveres.
Os naipes do baralho também foram picados pelo pecadinho da inveja. Só se usam com o essezinho final: dama de copas, rei de espadas, dois de ouros, nove de paus.

A diferença
Existem as palavras óculo e óculos. Óculo significa luneta. Tem uma lente. Binóculo é filhote dele. Bi quer dizer dois. O danadinho tem duas lunetas.
Óculos, sempre com s, tem duas lentes – uma pra cada olho. Daí o plural obrigatório: óculos mágicos, meus óculos, óculos escuros. Onde estão meus óculos?

Ser coerente é…
Harmonizar a linguagem do corpo com as palavras. Ao falar, a gente se comunica por inteiro. A expressão do corpo, o rosto, o olhar, a respiração, a voz, a maneira de vestir-se, tudo conta. Segundo pesquisa da Universidade de Stanford, o corpo responde por 45% da mensagem; o tom de voz, 20%; as palavras, 35%.

Viajar na agenda
Férias lembram viagem. Malas prontas, pé na estrada. O verbo viajar pede passagem. Ele é criatura sem complicação. Tem jota no radical (viajar). Seguida por qualquer vogal, a letra mantém a pronúncia. Por isso viajar se conjuga sempre com j: eu viajo, ele viaja, nós viajamos, eles viajam; que eu viaje, ele viaje, nós viajemos, eles viajem.

Sem confusão
Atenção, gente fina. Não confunda Germano com gênero humano. O substantivo viagem se escreve com g. O verbo viajem respeita o radical. Grafa-se como os irmãozinhos dele – com j: Viajem e façam ótima viagem.

De jotas e gês
Água parada apodrece, dizem os apaixonados por mudanças. Para eles, viagem é festa. Eleição também. A cada dois anos há possibilidade de sair do mesmo. Aí não dá outra. O verbo eleger entra em cartaz.

Não é por acaso. Ele muda na conjugação. A letra g (eleger), como quem não quer nada, vira j. A razão é simples. Em todos os tempos e modos, a pronúncia tem de ser gê. Quando o gê é seguido de a, o e u, dá rolo. Soa ga, go, gu.
O jeito é apelar para o j. Com ele, a pronúncia se mantém: eu elejo, ele elege, nós elegemos, eles elegem; que eu eleja, ele eleja, nós elejamos, eles, elejam.

Ação
Invejoso, o verbo agir vai atrás de eleger. A forma, seguida de a ou o escreve-se com j: eu ajo, ele age, nós agimos, eles agem; que eu aja, ele aja, nós ajamos, eles ajam.

Leitor pergunta
Na escola, aprendi que viger se conjuga como escrever. Mas o uso me deixa confuso. Políticos, repórteres, apresentadores só falam vigir. O verbo mudou de conjugação? – Adalberto Silva, Porto Alegre.

Vigir não existe. O verbo é viger. Intolerante, ele cortou relações com o a e o o. Só se conjuga nas formas em que essas vogais não aparecem depois do g. A primeira pessoa do presente do indicativo (eu vigo) não tem vez. Nem o presente do subjuntivo. Que eu viga? Nãoooooooooooo!

Nas demais, viger é regular. Conjuga-se como escrever: escreves (viges), escreve (vige), escrevemos (vigemos), escrevem (vigem), escrevi (vigi), escrevia (vigia). E por aí vai.

Complicado? A língua oferece outras possibilidades. Dixe o viger pra lá. Que tal vigorar? Ou entrar em vigor?

Sair da versão mobile