A atriz Fernanda Montenegro, 95 anos, entrou para o Guinness Book, o Livro dos Recordes, após conquistar o título de maior público em uma leitura filosófica. O feito foi alcançado em 18 de agosto, quando ela realizou uma leitura dramática de “A Cerimônia do Adeus”, de Simone de Beauvoir, para um público de 15 mil pessoas no Parque do Ibirapuera, em São Paulo.
Na ocasião, a atriz descreveu o evento como uma “grande festa de aniversário” de seus 95 anos. Na última quarta-feira, Fernanda divulgou o recorde que conquistou no Instagram. “Milagres acontecem”, disse ela ao receber o certificado.
“Ter levado Simone de Beauvoir para 15 mil pessoas dentro do Ibirapuera… Isso acontece em mais algum lugar do mundo? Só falando, para 15 mil pessoas. Só trazendo ideias nada fáceis de serem absorvidas, e ninguém vai embora. Todo mundo aceita cada palavra que se fala e termina aplaudindo”, acrescentou.
“Na minha vida, esse momento não vai se repetir. Então, por mais que eu agradeça, existe, sem dúvida nenhuma, a pontuação realizada de uma vocação.”
Simone de Beauvoir
Simone de Beauvoir, filósofa, escritora e uma das figuras mais influentes do século XX, é amplamente reconhecida por suas contribuições profundas à filosofia existencialista e ao movimento feminista. Nascida em Paris em 1908, suas obras desafiaram as normas da época e permanece relevante até hoje, especialmente no que diz respeito à questão de gênero e à liberdade das mulheres.
Ela foi uma defensora dos direitos das mulheres e de outros movimentos sociais, se destacando pela defesa da liberdade sexual e do direito ao aborto. Sua obra mais icônica, “O Segundo Sexo” (1949), revolucionou o pensamento feminista ao desafiar as estruturas de poder que historicamente relegaram as mulheres a uma posição de subordinação. Neste livro, ela formulou a famosa frase “não se nasce mulher, torna-se mulher”, sintetizando sua crítica ao essencialismo de gênero e argumentando que as desigualdades entre os sexos são construções sociais, não naturais.
Além de seu trabalho filosófico, Simone também se destacou como escritora de ficção e memórias, explorando temas existencialistas, como liberdade, escolha e responsabilidade individual. Sua autobiografia, Memórias de Uma Moça Bem Comportada (1958), oferece uma visão introspectiva de sua formação intelectual e das influências que moldaram sua visão de mundo.
Sua parceria intelectual com Jean-Paul Sartre, com quem manteve um relacionamento aberto por toda a vida, também foi marcante. Juntos, eles foram figuras centrais no movimento existencialista e tiveram grande influência nas questões filosóficas e políticas do século XX. Seu vínculo intelectual e filosófico foi um exemplo de uma relação sem os laços convencionais do casamento, algo que a filósofa via como restritivo para a liberdade individual.
No entanto, sua figura também foi marcada por controvérsias. Ela trabalhou na emissora de rádio Vichy durante a ocupação nazista na Segunda Guerra Mundial e assinou uma petição defendendo a abolição da idade de consentimento sexual em 1977.
Essas questões se intensificaram em debates públicos. Em 2015, Simone foi alvo de controvérsias no contexto de uma questão sobre ela no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), levando a edições frequentes em sua página na Wikipédia. Outras polêmicas envolveram sua vida pessoal, como as acusações de abuso por parte de algumas de suas alunas, embora essas alegações nunca tenham sido comprovadas.