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Fernanda Torres revela gatilho em cena de “Ainda Estou Aqui”

Atriz lembra juventude em meio à ditadura militar, em que morria de medo de ser parada numa blitz. (Foto: Victor Pollak/TV Globo)

Em uma cena de “Ainda Estou Aqui”, filme de Walter Salles escolhido para representar o Brasil no Oscar e em cartaz nos cinemas após superar marca de um milhão de espectadores, a filha mais velha de Eunice Paiva, Vera, é parada em uma blitz de militares dentro de um túnel na cidade do Rio de Janeiro.

Ela sai de dentro do carro com as mãos para cima, e a arma de um policial apontada para sua cabeça. Junto com os amigos, é enfileirada contra a parede coberta de fuligem do túnel e revistada. Um militar compara o rosto dos jovens aos de outros garotos, cujas imagens estão impressas em um papel. Ali está a lista de pessoas procuradas, acusadas de conspirar contra o regime.

A cena deu gatilho em Fernanda Torres, a protagonista do longa, que conta a história da advogada que luta para descobrir o verdadeiro paradeiro do marido, o engenheiro e político Rubens Paiva, morto pela ditadura militar no Brasil nos anos 1970.

“Podia ter sido eu dentro daquele carro”, disse Fernanda, durante conversa com a jornalista Maria Fortuna. “Na minha adolescência inteira estive em carros como aquele, e a gente sempre teve medo de ser parado pela polícia. Estudantes brancos eram alvo na época. Eunice entendeu, na maioridade, quando se formou em advocacia, que a violência de Estado não era diferente do que acontece todo dia nas periferias, e com os indígenas. Que o que havia acontecido com ela é o que acontece diariamente num Estado de polícia truculenta com que a gente se acostumou no Brasil, mesmo depois do fim da ditadura. Precisa entender porque isso aconteceu. Um jovem que já cresceu num país democrático e não num país fechado como eu, acha que a democracia é normal.”

A atriz contou o que aprendeu com o longa e acredita ele tem a capacidade de furar a bolha e chegar a quem defende a ditadura:

“O filme me fez entender que o movimento estudantil era feito de pessoas muito jovens e despreparadas. Existe uma diferença entre esse despreparo dessas pessoas e um Estado autoritário que oficialmente cria uma máquina de terror. Isso não dá. Nem para um jovem liberal que não se lembra do que foi a ditadura e acha que um pouco de Estado autoritário talvez resolva o problema do Brasil.”

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