Sábado, 16 de novembro de 2024
Por Tito Guarniere | 8 de julho de 2023
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Fernando Henrique Cardoso completou 92 anos, E como é comum quando ele é o assunto vieram à tela os velhos argumentos dos seus detratores e dos seus defensores. Injustiçado? O presidente que implantou o “neoliberalismo” no Brasil, um conceito que pretende resumir todas as maldades do sistema capitalista?
O nome de FHC está ligado de forma indissolúvel ao Plano Real, que acabou com a inflação no Brasil. Bastaria isso para inscrever o seu nome no panteão dos heróis nacionais. Mas nada é assim tão simples. Os seus críticos trabalham com afinco e método para negar-lhe os méritos possíveis.
Teria sido obra (o Plano Real) do então presidente Itamar Franco. Teriam sido dos seus idealizadores, os economistas magistrais que o conceberam – Bacha, Malan, Arida, Gustavo Franco e outros menos votados Há quem negue o próprio Plano : teria sido uma mera conjuntura mundial de queda da inflação.
Talvez o debate devesse começar, sempre, com o que significava para o Brasil e para os brasileiros, principalmente os mais pobres, a inflação. Como já se disse com pertinência, era uma forma de imposto dos pobres, ao mesmo tempo que um fator de renda dos mais aquinhoados, que sabiam como administrar as flutuações da moeda nacional a seu favor.
O fim da inflação foi uma revolução. Os detratores do Plano, em geral, sempre menosprezaram a inflação como um mecanismo perverso para as populações mais pobres, ou como um fator que mascarava estudos, projeções e índices econômicos, tornando inviável a adoção de políticas públicas capazes de mantê-la dentro de um limite civilizado.
O que não se pode é subestimar o papel de FHC. Afinal, era o ministro da Fazenda. Ele reuniu e liderou o grupo que formulou o Plano, fez a ligação da natureza técnica do Plano com a política, a articulação com o Congresso, com os agentes econômicos, com a sociedade. FHC, mais do que ninguém.
Também acusam-no do que chamam de “privataria”. Sim, foi no seu governo que as teles e os bancos estaduais (na sua maioria), grandes empresas como a Vale e a CSN foram privatizadas.
Diz-se que a Vale foi vendida a preço de banana. Mas nenhum dos seus críticos explica que os compradores da Vale e da CSN levaram consigo as dívidas astronômicas que ambas as companhias acumulavam. Nem que a Vale simplesmente triplicou o número de postos de trabalho – não se dão ao trabalho de calcular do que a empresa pagou ao erário, em tributos, desde a sua privatização.
Os críticos silenciam, sobre as teles e os bancos estaduais, e o salto que o Brasil deu na área de comunicações – há mais telefones hoje do que os 203 milhões de brasileiros. Ou que a privatização fechou a torneira dos bancos estaduais, monumentos ao uso político, à ineficiência, ao atraso tecnológico.
FHC pôs em pauta no Brasil, definitivamente, o conceito de equilíbrio fiscal, até hoje desprezado por amplos setores, porém vital e indispensável para tirar o país do atoleiro em que está metido há décadas.
Sim, mas e a emenda da reeleição? Os opositores, docemente constrangidos, gostam de relembrar o equívoco de FHC. Mas nenhum deles propõe uma emenda que volte a proibi-la.
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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