Sábado, 22 de março de 2025
Por Redação O Sul | 21 de março de 2025
A solidão é considerada uma epidemia, com efeitos comparáveis a fumar 15 cigarros por dia. Por outro, em um mundo cheio de informações e interações sociais, ficar sozinho por algum tempo pode ser benéfico à saúde mental. Mas como você pode equilibrar o isolamento com um tempo para si?
O romance literário “Frankenstein”, de Mary Shelley, discute a rejeição e o isolamento de um monstro criado a partir de um esforço científico. A pintura “O Grito”, feita por Edward Munch, retrata um homem desesperado que parece agonizar sem uma única pessoa para apoiá-lo. Na música “Eleanor Rigby”, os Beatles observam “pessoas solitárias” e questionam “de onde elas vêm”.
Esses são apenas três exemplos de como as ideias de solidão e de solitude são tópicos populares em todas as formas de arte. E que têm um enorme impacto na sociedade e em como nos sentimos nas interações sociais.
É inegável que esse assunto ganhou ainda mais relevância na última década. Em 2023, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a solidão uma “preocupação global de saúde pública” e lançou um comitê internacional para lidar com o tema.
Ao mesmo tempo, somos constantemente inundados por mensagens, e-mails, notificações de mídia social e outras informações que podem ser opressivas — e reforçam a necessidade de ficar sozinho por um tempo.
É possível evitar a solidão e se sentir conectado a uma comunidade por meio de interações significativas, e ainda ter espaço para a solitude e momentos de autorreflexão?
A rede britânica BBC apresentou essas questões a especialistas e pesquisadores, e eles compartilharam algumas dicas práticas para atingir esse equilíbrio no dia a dia.
A solidão é uma “emoção subjetiva e desagradável” que surge quando você sente “uma baixa qualidade nos relacionamentos sociais em relação ao que gostaria de ter”, explica Andrea Wigfield, diretora do Centro de Estudos da Solidão da Universidade Sheffield Hallam, no Reino Unido.
Especialistas sugerem que a solidão aparece quando você sente que a qualidade de seus relacionamentos pessoais é pior do que deseja. Ou, ao comparar os relacionamentos que tem com os de colegas, se sente insatisfeito porque as suas amizades parecem mais fracas e desinteressantes.
Enquanto uma pessoa isolada pode rapidamente se tornar solitária, também é verdade que é possível se sentir sozinho no meio de uma multidão. A sensação de que você não pertence, ou de que a qualidade de suas conexões não é forte o suficiente, pode rapidamente levar a essa emoção subjetiva e desagradável, alerta Andrea.
Embora seja um problema antigo, a solidão se tornou um desafio para milhões durante os lockdowns prolongados e o distanciamento social obrigatório da pandemia de covid-19. Isso deixou muitas pessoas isoladas em casa.
Já a solitude é mais um estado temporário e pode trazer um momento bem-vindo de tranquilidade. Trata-se de um período em que você está fisicamente só e não interage com ninguém nas redes sociais, explica a psicóloga Thuy-Vy Nguyen, pesquisadora do Laboratório de Solitude da Universidade de Durham, no Reino Unido.
Efeitos no corpo
A solidão faz mal à saúde. Um estudo recente da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, revelou uma associação entre o isolamento social e o aumento do risco de doenças cardíacas, AVC, diabetes tipo 2 e até uma maior suscetibilidade a infecções.
Wigfield acrescenta que também há evidências crescentes de que a solidão pode levar à demência, depressão, ansiedade e um risco elevado de morrer por todas as causas.
O que está por trás dessa ligação ainda não está claro. Médicos acreditam que isso acontece por causa de um aumento do estresse no corpo e à falta de estimulação cognitiva relacionada ao isolamento, o que piora as condições de saúde mental.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que uma em cada quatro pessoas mais velhas esteja socialmente isolada e entre 5 e 15% dos adolescentes enfrentam a solidão. Além da idade, grupos específicos também correm maior risco de se tornarem solitários.
É o caso de imigrantes, minorias étnicas, refugiados, pessoas da comunidade LGBTQ+, cuidadores e pessoas com condições de saúde crônicas. (com informações da Rede BBC)