A luta de Cláudia Boutros, 39 anos, que teve a filha levada pelo pai para o Líbano, parece ainda longe do final. Mesmo após conquistar na Justiça libanesa o direito de repatriar Gabriella, em outubro do ano passado, a mãe ainda não conseguiu trazer a adolescente de 13 anos para o Brasil. Além de o pai da menina ter entrado com recursos na Justiça contra a decisão, a própria Gabriella disse que não quer retornar agora para o país onde nasceu. Nesta terça-feira (16), os advogados de Cláudia enviaram uma carta ao Itamaraty pedindo apoio financeiro do governo brasileiro. As informações são do jornal O Globo.
Pai de Gabriella, Pedro Boutros levou a filha para o Líbano em 2010, quando ela tinha ainda 6 anos, sem a autorização de Cláudia. Por anos, a mãe brigou para a Justiça libanesa reconhecer o direito dela como guardiã da menina. Em outubro, ela venceu a batalha judicial, mas, desde então, percebeu que sua luta ainda não está perto do fim.
De acordo com advogado de Cláudia, José Beraldo, a brasileira foi “abandonada” pelo Ministério das Relações Exteriores. “O Itamaraty tem que pegar mais firme. O ministério tem que exigir o repatriamento. Estou vendo que ela está abandonada lá, e foi um pedido do Itamaraty que ela fosse para o Líbano”, disse o advogado.
Segundo Cláudia Boutros, o pedido é uma tentativa de agilizar o cumprimento da decisão judicial. “Já que o corpo consular não está tendo força ativa para, precisamos de uma força superior, a intervenção do Ministério de Relações Exteriores” disse.
Logo após a decisão da Justiça reconhecendo a guarda de Cláudia, o pai da menina entrou com recurso na Justiça alegando que o Brasil é um “país perigoso”.
“Ele alegou que a filha corre risco de morte no Brasil, disse é um país violento, onde ela seria estuprada. Nós provamos que ela teria uma boa vida aqui, estudando em escola particular, ao lado de uma família que a ama”, afirmou Beraldo na época.
No texto enviado ao Itamaraty, os advogados brasileiros afirmam que o representante jurídico de Cláudia no Líbano, Pierre Baaklin, teria omitido informações importantes sobre o processo e que não informa sobre a data em que a jovem poderia retornar ao Brasil.
“Cláudia não possui condições financeiras no Líbano, tampouco assistência jurídica necessária para que a primeira decisão libanesa seja efetivada”, diz trecho.
Além do impasse na Justiça, Cláudia enfrenta a dificuldade de convencer a filha a voltar ao país de origem. Criada desde a infância no Líbano, Gabriella disse à juíza do caso que só quer retornar ao Brasil nas férias.
“Se não começarmos a bater de frente em alçadas superiores, eu não vou conseguir sair daqui com a Gabriella ou muito menos um acordo. Porque, também, a Gabriella não está contribuindo. Ela está dizendo para a juíza que não quer sair do Líbano e que vai para o Brasil só nas férias. Então, são dois agravantes nessa situação”, disse.
No Brasil, há contra Pedro um mandado de prisão pelo sequestro da menina. Após a separação do casal em janeiro de 2008, a mãe ganhou a guarda da criança na Justiça brasileira. O combinado era que o pai poderia ver e sair com a filha aos finais de semana, na cidade de São Paulo, onde moravam. Mas, em um dos dias reservados para Pedro, ele levou a menina consigo. De acordo com a mãe de Gabriella, eles chegaram a passar por quatro países: Paraguai, Argentina, França e, finalmente, o Líbano.
Em dezembro deste ano, em vídeo enviado ao jornal O Globo pelo advogado, mãe e filha aparecem lado a lado. Cláudia então diz para Gabriella, de 13 anos, falar algo para a câmera, mesmo que fosse em inglês. Com o pai, no Líbano, ela deixou de praticar o português. “Olá, eu estou aqui com a minha mãe”, disse a menina, com timidez.