Na medida em que o cerco se fecha contra Jair Bolsonaro, reforçado pelo indiciamento do ex-presidente na semana passada, o bolsonarismo tem vivido uma cobrança pública a respeito do que se considera uma falta de lealdade ao seu líder. A Polícia Federal (PF) indiciou Bolsonaro e mais 11 no caso das joias sauditas. A corporação imputa ao ex-chefe do Executivo supostos crimes de peculato, associação criminosa e lavagem de dinheiro.
O entorno de Bolsonaro pressiona por mais demonstração de apoio dos aliados. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), primogênito do ex-presidente, cobrou dos aliados a direita unida na defesa do pai, após poucos parlamentares de seu partido se manifestarem contra a ação da PF. O comunicador digital Kim Paim, cujo canal no YouTube com quase 800 mil inscritos é assistido por Bolsonaro, publicou um vídeo mencionando que apenas três deputados federais do PL – Eduardo Bolsonaro (SP), Sóstenes Cavalcante (RJ) e José Medeiros (MT) – foram às redes sociais defender o ex-presidente no mesmo dia do indiciamento. No Senado, Bolsonaro teve apoio também de Sérgio Moro (União-PR).
Os aliados mais próximos do ex-presidente costumam debochar da reivindicação por uma direita unida visando se preparar para retomar o poder em 2026, independentemente de quem seja o candidato, e a pauta agora tem sido ironizada que cobram união contra o indiciamento. ”Cadê a defesa de Bolsonaro, ‘direita unida’?”, alfinetou Flávio em sua conta no X (antigo Twitter).
O clima de desconfiança na direita, no entanto, vem sendo insuflado na própria família do ex-presidente. No último fim de semana, o vereador do Rio Carlos Bolsonaro (PL) fez um comentário ambíguo em uma foto do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) em que sua filha está no colo de Jair Bolsonaro, ao lado da ex-primeira-dama Michelle. ”Legal o cara fazer isso com sua filha e com a minha não! De qualquer forma, parabéns sempre, grande Nikolas”, disse Carlos no Instagram.
A indireta, que pareceu ter sido feita ao pai, pode ter sido direcionada a Michelle, de acordo com bolsonaristas próximos do ex-presidente, sugerindo ser ela o motivo de distanciamento entre Carlos e o pai. Na mesma publicação, a ex-primeira-dama escreveu: “Que Deus livre e guarde a nossa Aurora de toda a inveja e maldade”.
Influente na comunicação do pai durante a Presidência da República, Carlos tem feito críticas indiretas à “assessoria” de Jair Bolsonaro, sugerindo se tratar de alguém no círculo íntimo do pai. Na semana passada, o ex-presidente participou de uma entrevista com o ex-advogado do MBL, Thiago Pavinatto – que no passado bombardeou o então presidente com críticas duras –, o que irritou apoiadores bolsonaristas fiéis, entre eles o vereador.