Segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 26 de setembro de 2022
“O filme fala de como ela se sente. O público precisa sentir o que ela sente”, explicou Ana de Armas.
Foto: Netflix/DivulgaçãoA fama sempre fascinou Andrew Dominik, como mostrou em filmes como “Chopper – Memórias de um Criminoso” (2000), sobre um homem que sonhava com a fama como criminoso, e “O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford” (2007), que fala do célebre fora da lei do Velho Oeste, morto por um dos seus homens de confiança.
Mas em “Blonde”, que estreia nesta quarta-feira (28), na Netflix, depois de participar da competição do último Festival de Veneza, o diretor se arrisca em uma das mais conhecidas e trágicas histórias sobre o tema: a de Marilyn Monroe.
“A fama é algo muito interessante”, disse ele em Veneza. “Marilyn Monroe dizia que, quando se é famoso, você sempre está no inconsciente dos outros.” Dominik sabe do que ela estava falando. Ele tem alguns amigos bastante famosos, de Brad Pitt, um dos produtores de “Blonde”, a Nick Cave. “Eu vejo como as pessoas reagem a eles. E aí você percebe que os outros estão reagindo a algo que carregam dentro de si. O famoso te coloca em confronto com seus próprios desejos, medos, feridas.”
Ao mesmo tempo, continuou o cineasta, “você imagina que ser famoso significa ter uma vida mais fácil”. “Ser desejado o tempo todo parece ser muito bom. Mas parece que muitos que foram desejados o tempo inteiro acabaram destruídos de alguma maneira.”
Como Marilyn Monroe, morta com apenas 36 anos por uma overdose de barbitúricos. “Blonde” não é exatamente uma cinebiografia, já que se baseia em uma obra de ficção de Joyce Carol Oates. Não há dúvidas de que, no filme, Bobby Cannavale interpreta o segundo marido da atriz, o ex-jogador de beisebol Joe DiMaggio, mas ele é identificado apenas como “O ex-atleta”. O mesmo com o terceiro marido, Arthur Miller (Adrien Brody), aqui somente “O dramaturgo”. E John Fitzgerald Kennedy (Caspar Phillipson) é “O presidente”.
Instabilidade
Dominik também teve de fazer recortes, já que o romance tem mais de 700 páginas. “Eu queria detalhar o trauma da infância e daí mostrar a vida adulta sob o ponto de vista desse trauma”, contou o cineasta.
No filme, Norma Jeane, interpretada por Lily Fisher quando criança e Ana de Armas na fase adulta, teve uma infância que foi marcada pela instabilidade mental da mãe, Gladys (Julianne Nicholson). Nunca soube quem era seu pai, o que a marcou durante toda a vida – “Blonde” destaca como ela chamava seus maridos de “papai”, por exemplo.
Quando a mãe foi internada, ela acabou em casas temporárias e depois em um orfanato. Sofreu abuso sexual, físico, foi vista como mero objeto, sem nenhuma agência sobre seu próprio corpo.
O longa faz questão de mostrar em detalhes cada sofrimento. “O filme fala de como ela se sente. O público precisa sentir o que ela sente”, explicou Ana de Armas.