Sábado, 23 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 13 de maio de 2015
A garantia é do diretor Guilherme Fontes, que ainda enfrenta diversos processos na Justiça, por dívidas no orçamento
Quando Guilherme Fontes estreou como ator em 1985, na primeira versão da novela “Ti Ti Ti”, de Cassiano Gabus Mendes, na TV Globo, já queria ser diretor de cinema, sonho que começaria a ser concretizado dez anos depois, quando comprou os direitos do livro “Chatô, o Rei do Brasil” (Companhia das Letras), de Fernando Morais, lançado naquele ano de 1995.
Mas ele não imaginaria que esse novo passo levaria 20 anos e diversos processos na Justiça (inclusive o do final de abril, quando o Superior Tribunal de Justiça decidiu adiar o julgamento sobre se ele pode ser processado por improbidade administrativa) para ficar pronto. “Estamos fechando as negociações para o lançamento. O plano é dispor de 150 a 300 cópias nos principais mercados já no primeiro semestre”, revela o ator em entrevista por e-mail.
Depois de duas décadas, o filme, segundo ele, vai chegar aos cinemas da maneira que idealizou desde o início. Um dos maiores problemas da produção, negado por ele, foi a tentativa da parceria com o diretor Francis Ford Coppola, que veio ao Brasil para conhecer o projeto, mas declinou do convite para dirigir e de participar como coprodutor.
Nessa entrevista, ele fala, ainda que de forma vaga, sobre mais um processo na Justiça, agora do STJ, sobre a dívida com o Governo Federal, que, por meio do Tribunal de Contas da União (TCU), o condenou a devolver mais de R$ 71 milhões em dezembro de 2014.
Em dezembro, Fontes já havia prometido lançar “Chatô”, depois da condenação do TCU, o que não aconteceu. Agora, garante já ter entregue a cópia definitiva para o TCU.
Em novembro de 2014, você disse que lançaria o filme no mês seguinte, logo depois que o TCU negou recursos de seus advogados e o condenou a devolver aos cofres públicos mais de R$ 71 milhões. O que aconteceu?
Guilherme Fontes – Estamos fechando as negociações para o lançamento. O plano é lançar entre 150 e 300 cópias nos principais mercados já no primeiro semestre, provavelmente ao final de maio ou no início de junho. A primeira exibição que farei será exclusiva para os atores, meus grandes companheiros e apoiadores. Quero que eles sejam os primeiros a assistir ao filme.
Em abril, o Superior Tribunal de Justiça decidiu adiar o julgamento sobre se você pode ser ou não processado por improbidade administrativa. Os ministros estão analisando o processo já que você não faz parte da administração pública.
Guilherme Fontes – O que me explicaram é que não posso ser processado ou julgado como agente público sem outro agente público envolvido. Por favor, quando vocês vão parar de chover no molhado?
O TCU, que o condenou em dezembro a devolver à União mais de R$ 71 milhões, por causa do mau uso dos R$ 8, 6 milhões captados para fazer o filme, não aceitou a versão que você apresentou em 2006, por não considerarem finalizado o filme. Como andam seus processos na Justiça?
Guilherme Fontes – O filme “Chatô” está pronto para estrear. Já prestei contas ao TCU em volume bem maior que o captado de incentivos e o produto final já foi entregue conforme manda a lei. Os prazos foram ajustados e a última versão finalizada digital som 5.1 já foi entregue ao TCU. Agora, espero e desejo que realmente as pessoas se divirtam e tenham um bom filme. Segundo os advogados, os recursos cabíveis tanto no TCU quanto na Justiça já foram feitos e os prazos combinados com o TCU também. Tudo vai ficar bem agora. As notas já foram apreciadas há tempos e a “ponte”, a obra, também já foi entregue, finalizada. Tudo vai sendo esclarecido.
O orçamento aprovado pela Lei Rouanet, em 1995, foi de R$ 12 milhões. Desse total, você captou R$ 8,6 milhões e sempre argumentou que o dinheiro era insuficiente para fazer o longa que pretendia. Mas, segundo produtores que trabalharam com você, como Rômulo Marinho, o montante seria suficiente para realizar o filme que ele tinha planejado e não o que você queria fazer. Por que não redimensionou o roteiro para aquele orçamento?
Guilherme Fontes – O filme que eu planejei está pronto e será lançado em breve. Estou extremamente feliz em ter conseguido, apesar de todas adversidades e sofrimento, entregar ao público a história de um dos mais importantes e controversos brasileiros de todos os tempos.
Os problemas de inadimplência com a União não impedem que o filme seja lançado?
Guilherme Fontes – No mundo digital, nada impede nada. Uma coisa é uma coisa. Outra coisa é outra coisa. E as duas se ajudam agora com o filme pronto.
Além dos R$ 71 milhões cobrados pelo TCU, a Petrobrás e a Riofilme também entraram na Justiça do Rio, cobrando a devolução do dinheiro investido.
Guilherme Fontes –Repito: tudo vai ficar bem agora.
Você pediu emprestado R$ 2,53 milhões da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) para a compra de equipamentos, em dois empréstimos, em 1997 e 1998. A empresa chegou a acioná-lo na Justiça.
Guilherme Fontes –Não entendo desses números. Mas tudo vai tomar o rumo original e vai se equacionar, política e financeiramente falando.
Você argumenta que o seu maior erro foi ter começado a fazer um filme sem ter levantado todo o dinheiro do orçamento aprovado (R$ 12 milhões). Outras decisões atrapalharam a realização do filme, como sua falta de experiência na produção e na direção, e de querer transformar esse projeto numa produção internacional?
Guilherme Fontes – Sim, meu maior erro foi iniciar o filme sem ter levantado todo o dinheiro do orçamento aprovado. Demorei 15 anos para conseguir finalizá-lo. Mas agora todos poderão comprovar a qualidade da produção. Muitas questões que o País vive hoje estão lá. Da parceria internacional, nasceram os métodos e um roteiro que foi finalizado em colaboração com a empresa American Zoetrope, de Francis Ford Coppola.
Há várias versões sobre a vinda de Coppola ao Rio, em dezembro de 1997. Pelo volume de dinheiro que você investiu (mais de R$ 2,5 milhões), comprando inclusive equipamentos da Zoetrope, acredita que isso atrapalhou a realização do filme? Por que Coppola declinou do projeto?
Guilherme Fontes – Convidei o Coppola para dirigir, mas ele preferiu sugerir dois nomes nacionais que não considerei ideais para o filme. Indiquei Daniel Filho, que não pôde entrar na produção por ter acabado de abrir a Globo Filmes. Decidi então assumir a direção. Não pude levar adiante a parceria com Coppola porque ele orçou o filme em R$ 47 milhões, enquanto eu lutava para conseguir R$ 12 milhões. Não havia como seguir nesses termos. Mas a colaboração da Zoetrope segue viva no roteiro.
Durante anos, você acusou produtores brasileiros, como Luís Carlos Barreto, de espalharem histórias falsas a respeito do filme, dificultando a captação do dinheiro para terminá-lo.
Guilherme Fontes –Houve uma grande disputa pelos direitos do livro, e eu ganhei. No caminho, tive vontade de jogar a toalha, desistir de tudo. Mas tenho amigos, filhos e um exemplo a transmitir.
A primeira versão do roteiro foi feita por João Emanuel Carneiro, que não foi aprovada pelo Coppola. Ele sugeriu um amigo, Mathew Robbins, que veio ao Brasil, inclusive visitando a cidade onde nasceu Assis Chateaubriand, Umbuzeiro, na Paraíba. Você filmou essa versão do roteiro? Houve outras versões depois?
Guilherme Fontes – A versão final do roteiro é assinada pelo João, por mim e pelo Matthew, uma parceria que resultou em um casamento perfeito. Nessas trocas, optamos por uma narrativa não linear, que seria o melhor modelo para apresentar uma vida tão rica, repleta de nuances.
Você disse que investiu em Chatô R$ 3 milhões do seu bolso e, juntando com os R$ 8,6 milhões que captou, o orçamento final do filme ficou em torno de R$ 11,6 milhões. Era esse o orçamento que você precisava para fazer a sua saga do Chatô?
Guilherme Fontes – Foram aprovados e autorizados a serem captados no mercado – o que é bem diferente de dinheiro em caixa – R$ 11,3 milhões pela Lei Rouanet e R$ 3 milhões pela Lei do Audiovisual. Entre 1996 e 1999, captei R$ 5,6 milhões pela Rouanet e R$ 3 milhões pela Lei do Audiovisual. Os recursos próprios serviram para cobrir buracos ou a falta de entrada regular dos incentivos. Minha obrigação seria apenas de R$ 600 mil, como contrapartida do produtor, que existe apenas na Lei do Audiovisual, e coloquei muito mais isso, os R$ 3 milhões que já mencionei. (Amilton Pinheiro/AE)